Cinco partidos pediram o afastamento do presidente da Câmara, que tem o apoio de três bancadas. O Planalto age para conter atos “imprevisíveis” do deputado.
Oposição tira apoio a Cunha
• Grupo sugere saída, mas espera que presidente defira antes pedido de impeachment
Maria Lima - O Globo
BRASÍLIA - Cobrados pela aliança informal com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDBRJ), para encaminhar o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, depois da divulgação dos extratos de contas na Suíça, ontem os líderes da oposição se viram obrigados a dar uma satisfação à opinião pública e divulgaram nota defendendo o seu licenciamento do cargo de presidente da Casa. Apesar da nova postura, eles continuam articulando com Cunha e esperam que ele defira o pedido de impeachment antes de qualquer decisão sobre o afastamento. Assinaram a nota os líderes de PSDB, SD, DEM, PSB, PPS e Minoria na Câmara. Mas Cunha reafirmou que cumprirá seu mandato de dois anos, sem se afastar.
“Sobre as denúncias contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, noticiadas pela imprensa, os líderes Carlos Sampaio, Arthur Maia, Fernando Bezerra Filho, Mendonça Filho, Rubens Bueno e Bruno Araújo, respectivamente do PSDB, Solidariedade, PSB, DEM, PPS e Minoria, entendem que ele deve afastar-se do cargo, até mesmo para que possa exercer, de forma adequada, o seu direito constitucional à ampla defesa”, diz a nota da oposição.
Apesar dos apelos dos líderes da oposição, o peemedebista avisou, por meio de nota, que não pretende se licenciar e cumprirá o mandato de dois anos para o qual foi eleito.
“Em relação a qualquer pedido de afastamento ou de renúncia por parte do presidente da Câmara, ele informa que foi eleito pela maioria absoluta dos deputados, em primeiro turno, para cumprir um mandato de 2 anos e irá cumpri-lo, respeitando a posição de qualquer um que pense diferente, mas afirmando categoricamente que não tem intenção de se afastar nem de renunciar. A Constituição assegura o amplo direito de defesa e a presunção da inocência, e o presidente pede que seja respeitado, como qualquer cidadão, esse direito. Não se pode cobrar explicação sobre supostos fatos aos quais não lhe é dado o acesso para uma digna contestação”, disse Cunha, via assessoria.
A torcida da oposição para que os documentos comprobatórios contra Cunha demorassem um pouco mais a chegar, para que ele deflagrasse esta semana o processo de impeachment contra Dilma, acabou não se concretizando. Ao saber do relatório do Ministério Público suíço, o líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio(SP), principal interlocutor de Cunha na articulação do impeachment, declarou que ontem mesmo tiraria uma posição conjunta com os líderes da oposição e também começaria a discutir um plano B para o afastamento de Dilma.
MP suíço transfere investigação
Mesmo com o pedido de afastamento para se defender, na oposição, a torcida é para que Eduardo Cunha encaminhe primeiro a tramitação do pedido de impeachment de Dilma. Depois de se reunir com os líderes da Oposição, Sampaio, Mendonça, Bruno e Rubens Bueno devem levar a Cunha a decisão do grupo de recomendação para que renuncie a presidência da Câmara.
— Ele pode deferir o pedido de impeachment e depois se licenciar — avalia um dos líderes.
O Ministério Público da Suíça transferiu para o Brasil uma investigação sobre o envolvimento de Eduardo Cunha com corrupção passiva e lavagem de dinheiro desviado da Petrobras. O lobista João Augusto Rezende Henriques começou a fazer depósitos que totalizaram US$ 1,3 milhão em uma conta do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), no mesmo mês em que participou de um negócio de US$ 34,5 milhões da Petrobras no Benin. Em julho, um dos delatores da Lava-Jato, o lobista Júlio Camargo disse à Justiça ter sido pressionado por Cunha a pagar US$ 10 milhões em propinas relativas a dois contratos de navios assinados pela Petrobras em 2006 e 2007. Segundo ele, Cunha pediu US$ 5 milhões. O delator disse não ter falado antes por medo.
O lobista Fernando Baiano confirmou, em delação premiada, o repasse de US$ 5 milhões a Cunha. O operador do PMDB teria corroborado “todas as acusações” a Cunha feitas por Camargo e Youssef. Na semana passada, autoridades suíças detalharam que essas contas na Suíça pagaram contas pessoais de seus familiares, a esposa Cláudia Cruz e a filha Danielle.
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