• Cúpula do PMDB tem dificuldades para conter presidente da Câmara
Cristiane Jungblut e Geralda Doca - O Globo
BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff teme as consequências do chamado “comportamento imprevisível” do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e convocou ontem uma reunião de emergência com três ministros para tentar mapear as ações de Cunha a partir de terça-feira, quando ele pode abrir um processo de impeachment contra ela. A avaliação do governo é que Cunha está fragilizado diante das denúncias sobre contas na Suíça e que suas reações podem ajudar a oposição a acelerar o processo de impeachment. A petista quer que os ministros do PMDB ajudem na articulação para descobrir os próximos passos do presidente da Câmara, que agora já não conta mais com o apoio formal dos partidos de oposição, que ontem pediram, em nota, seu afastamento.
A presidente Dilma quer também que a mobilização dos ministros, em especial do PMDB, sirva para tentar conter Cunha ou pelo menos garantir o apoio dos parlamentares à posição do governo, contrária ao impeachment. Depois de chegar na madrugada de ontem da Colômbia, Dilma convocou os ministros Jaques Wagner (Casa Civil), Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) e José Eduardo Cardozo ( Justiça), no Palácio da Alvorada.
Segundo um dos participantes do encontro, Dilma quis uma avaliação do cenário da Câmara para a próxima semana e também saber sobre o comportamento de Cunha e a decisão da oposição de acelerar os pedidos de impeachment contra ela. Conforme relatos, a presidente presumiu que a semana “será tensa” e cobrou mobilização dos ministros para controlar as bancadas aliadas na Câmara.
As tentativas de articulação da semana passada para tentar manter os vetos presidenciais fracassaram e acenderam a luz de alerta no Planalto. A presidente demonstrou preocupação com as reações de Cunha e irritação com o comportamento do presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), que na quinta- feira defendeu abertamente o impeachment.
No encontro, ministros criticaram o fato de Aécio — neto do democrata Tancredo Neves — querer acelerar o processo de impedimento contra a presidente.
— A nossa avaliação é que será uma semana com um ambiente tenso. O Eduardo está numa situação em que pode levá-lo a tomar atitudes inesperadas ou das mais imprevisíveis. A presidente nos chamou para ouvir sobre essas questões — disse um dos participantes do encontro.
Cunha mantém força no PMDB
Na reunião no Alvorada, ficou acertado como estratégia tentar “coesionar” a base, mas os ministros admitiram que não há muito ambiente para isso.
Os ministros próximos a Eduardo Cunha, como Henrique Eduardo Alves (Turismo), serão acionados. Mas interlocutores do vice-presidente Michel Temer costumam destacar que o presidente da Câmara tem agido de forma independente. Nas reuniões com o próprio Temer, presidente licenciado do PMDB, Cunha ouve os argumentos, mas depois toma as decisões que julga corretas, sem dar satisfações à cúpula partidária.
Mas o problema, segundo um dos ministros do PMDB, é que Cunha é incontrolável, o que dificulta qualquer ação de Temer ou de ministros do partido.
O presidente da Câmara é definido dentro do Planalto como um “apostador compulsivo”, abrindo várias frentes de batalha. O Planalto tentou uma reaproximação com Cunha, mas a ponte foi implodida depois que as negociações da reforma ministerial ficaram a cargo do líder do PMDB na Câmara, deputado Leonardo Picciani (RJ).
Nas últimas semanas, Picciani e Cunha têm se comportado quase como rivais, disputando poder dentro da bancada na Câmara.
Acionados pelo Planalto, ministros e a cúpula do partido passaram o sábado definindo uma estratégia. O PMDB não pretende julgar e muito menos expulsar Cunha. A posição só mudaria em caso de decisão da Justiça ou do Conselho de Ética da Câmara contra o deputado. Segundo um peemedebista, em primeiro lugar vêm os interesses do partido e “depois os interesses do governo”. A prioridade é buscar a unidade da legenda, pensando na sobrevivência nas eleições de 2018.
— O PMDB não se comporta como Judiciário, não julga. Agora, cabe ao Eduardo Cunha se defender, provar as declarações que tem dado reiteradamente — resumiu Moreira Franco, presidente da Fundação Ulysses Guimarães.
O partido quer contornar a briga entre Cunha e Picciani. A avaliação é que Cunha “sentirá o momento” e que tende a acatar o pedido de impeachment.
— O PMDB não fará absolutamente nada contra Cunha — disse um integrante da cúpula.
Na briga com Cunha, Dilma e os ministros decidiram ainda apoiar a decisão do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), de deixar para novembro a próxima sessão do Congresso para vetos presidenciais. As últimas três sessões foram canceladas depois de obstrução da Câmara. Renan não escondeu a irritação com manobras que ele atribui a Cunha e à briga dentro do PMDB entre o presidente da Câmara e Leonardo Picciani.
— Acatamos a posição do presidente Renan e vamos trabalhar os vetos para novembro — disse um interlocutor de Dilma.
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