Estevão Taiar – Valor Econômico
SÃO PAULO - As críticas unânimes e contundentes à política econômica adotada pelo presidente interino Michel Temer marcaram evento em apoio à presidente afastada Dilma Rousseff realizado ontem à noite, em São Paulo. O encontro, organizado por centrais sindicais e movimentos sociais, contou com a presença da própria Dilma, recebida por centenas de pessoas, entre trabalhadores, militantes, intelectuais, políticos e até moradores de outros países, carregando bandeiras da Venezuela e do México.
Durante os aproximadamente 40 minutos em que discursou, Dilma pediu para os presentes que lutem "todo santo dia" pela democracia. "Nós achávamos que ela estava garantida, mas não está", disse. "Eu não renunciei, porque hoje temos espaços democráticos. Eles não me obrigaram a me suicidar, como fizeram com o Getúlio [Vargas]. Eu não precisei pegar um avião e ir para o Uruguai, como aconteceu com o Jango [João Goulart]." Ela também voltou a criticar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241, que limita o crescimento dos gastos da União à inflação do ano anterior, e disse que é preciso "resgatar" o debate sobre a desigualdade social.
As críticas mais contundentes a Temer, no entanto, vieram de outras personalidades presentes. No palco com Dilma, estavam, entre outros, o presidente do PT, Rui Falcão, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, o ex-senador Eduardo Suplicy, o ex-ministro do Trabalho, Miguel Rossetto, e a presidente da UNE e candidata à Prefeitura de Santos (SP) pelo PCdoB, Carina Vitral.
Haddad nas últimas semanas chegou a afirmar que "golpe" era uma palavra forte para definir o processo de impeachment. Candidato à reeleição, ele falou por mais tempo do que qualquer outro, com a exceção de Dilma, e disse que o "que está em jogo não é só a troca de um governante por outro". "Como vamos dizer para o povo brasileiro esquecer seus direitos por 20 anos?", perguntou em referência à PEC 241.
Foi nos discursos dos sindicalistas que surgiram as maiores críticas a Temer e às propostas de reforma trabalhista e da previdência. Alguns chegaram a classificar o governo interino como "racista", "machista" e "homofóbico". O próprio Haddad afirmou que mulheres, negros e a população LGBT da periferia passaram nos últimos meses a sentir os efeitos de uma "agenda de intolerância". "Perguntem a eles", disse.
O encontro foi realizado na Casa de Portugal, que já havia recebido o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em evento semelhante em março. O julgamento final de Dilma no Senado terá início amanhã.
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