• Otávio Azevedo se queixa de Giles Azevedo, assessor da ex-presidente, e menciona doação de R$ 1 milhão para Temer
Evandro Éboli, Vinicius Sassine e Juliana Castro - O Globo
BRASÍLIA E RIO - Otávio Marques de Azevedo, ex-presidente da empreiteira Andrade Gutierrez, afirmou em depoimento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que sofreu “uma pressão horrorosa” para repassar recursos para a chapa de Dilma Rousseff e Michel Temer, na campanha em 2014. Ele disse que foi paga propina como doação oficial, e que foi procurado várias vezes por dirigentes do PT para fazer o repasse.
Azevedo confirmou que também fez doação para o então candidato a vice de Dilma, o atual presidente Michel Temer. A declaração foi dada quando o ministro Herman Benjamin, do TSE, indagou sobre as doações ao PMDB. Azevedo explicou que para o partido foram doados cerca de R$ 20 milhões, sendo que R$ 1 milhão foram para Temer.
— Nós doamos para o diretório nacional (do PMDB)... R$ 1 milhão para o vice-presidente, quer dizer, para que fosse para a campanha do vice-presidente — disse o executivo.
Azevedo contou que a “pressão horrorosa” partiu de Giles Azevedo, um dos coordenadores da campanha de Dilma, poucos meses antes da eleição de 2014 e dias depois de ele já ter doado R$ 10 milhões para a campanha da petista. O exministro Edinho Silva, e tesoureiro da campanha, participou das conversas.
— Dois, três dias depois que mandei fazer esse depósito de R$ 10 milhões, recebi uma pressão horrorosa do Giles. E aí fui a Brasília, no comitê central do PT com Edinho e Giles, e expliquei para eles a questão dos recursos vinculados que a gente estava doando regularmente, sempre doando para o PT — disse Azevedo. — E eles foram bem pesados na expressão de dizer que era uma profunda frustração um grupo grande como a Andrade Gutierrez fazer uma doação só de R$ 10 milhões.
Azevedo disse que o grupo empresarial entendeu o duro recado duro:
— A pressão foi tão grande que em setembro fizemos uma nova doação de R$ 5 milhões. Não apaziguou os ânimos, pelo contrário... Em 23 de outubro a gente fez mais duas parcelas de dois, três milhões. E tudo isso estava fora do nosso planejamento. Nós realmente deixamos de fazer (outras) contribuições para fazer contribuições ao PT — afirmou Azevedo, em depoimento ao ministro Herman Benjamin, relator da ação no TSE.
Ele citou ainda abordagens do ex-tesoureiro João Vaccari e também do exministro Antônio Palocci. Disse que foi abordado várias vezes por Vaccari, até em período não eleitoral. E declarou:
— Várias vezes (Vaccari) foi reclamar comigo que os executivos da construtora não estavam pagando o emolumento combinado. E a coisa era assim: ‘Você procure o chefe deles. É com eles. Não é comigo. Comigo é eleição. Na hora que chegar... que tiver eleição, a gente conversa’ — disse Azevedo, afirmando que comandou o Grupo Andrade Gutierrez, mas não se envolvia na construtora.
O executivo contou que a Andrade Gutierrez teve de pagar propina ao PT e ao PMDB quando se formou o consórcio para construir a Usina de Belo Monte, em 2008. Ele disse que ficou acertado que 0,5% do valor de todos os projetos federais, em todas as áreas, tocados pela Andrade Gutierrez iria para o PT e 0,5% para o PMDB. Contou que essa “contribuição” ocorreu até 2014.
PAGAMENTOS AO MARQUETEIRO
Azevedo afirmou que, em 2014, a empresa repassou R$ 35,6 milhões para o PT e, deste total, R$ 20 milhões para o comitê da campanha de Dilma. Também disse ter doado R$ 12,6 milhões para a campanha de Aécio Neves. Para o PSDB, o total foi de R$ 32 milhões. Sobre a diferença entre o que doou a Dilma e a Aécio, Azevedo explicou que sofria pressão dos petistas, e não dos tucanos.
Na mesma ação, o lobista Zwi Skornicki disse à Justiça Eleitoral ter arcado, em 2013, com uma “dívida” de US$ 4,5 milhões com o casal João Santana/Mônica Moura, por meio de nove pagamentos de US$ 500 mil em contas no exterior, que se estenderam até novembro de 2014. Zwi é representante do estaleiro Keppel Fels e delator da Lava-Jato.
Zwi não soube precisar se o valor pago se referia a serviços prestados antes do acerto feito em 2013 ou se dizia respeito a futuros pagamentos ao marqueteiro que atuou na campanha de Dilma Rousseff à Presidência. O lobista disse ter ouvido de Vaccari apenas que se tratava de uma “dívida”. O delator afirmou ter estado com dois políticos do PT para tratar de propina, mas não disse os nomes, porque a dupla tem foro privilegiado e a delação de Zwi ainda precisa ser homologada, conforme o relato do depoente ao ministro Benjamin.
Os pagamentos feitos diziam respeito apenas ao PT, segundo o lobista. “Vaccari era tesoureiro do PT, a relação dele era de organizar remunerações e fundos para o partido PT. Não indicava nenhum outro partido”, afirmou Zwi. A propina era de contratos de plataforma de petróleo com a Petrobras, segundo ele.
Ontem, no Rio, foram ouvidos como testemunhas no processo sobre a chapa de Dilma e Temer o lobista Fernando Soares, o Baiano; o empresário Eike Batista; Vitor Hallack, ex-executivo da Camargo Corrêa; Rogério Nora Sá, ex-executivo da Andrade Gutierrez; Luiz Carlos Martins, ex-diretor na Camargo Corrêa; e o operador Mário Goes. O depoimento do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró foi adiado após pedido da defesa.
A audiência também foi conduzida pelo ministro Herman Benjamin, na sede do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, no Rio. O vice-procurador geral eleitoral, Nicolau Dino, acompanhou a sessão. Sérgio Riera, advogado de Baiano, disse que o cliente confirmou o conteúdo de sua delação, mas não afirmou se houve repasse de propina para a chapa DilmaTemer porque não sabia como era feita a distribuição dos recursos.
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