• Depoimentos vão envolver cerca de 150 políticos, incluindo ministros
Jailton de Carvalho - O Globo
BRASÍLIA - Depois de seis meses de complicadas negociações, executivos da Odebrecht começaram a fechar ontem acordos de delação premiada com os procuradores responsáveis pela Operação Lava-Jato, informou ao GLOBO uma fonte ligada ao caso. As delações vão atingir a reputação de mais de 130 deputados, senadores e ministros, e de cerca de 20 governadores e ex-governadores.
Cerca de 50 funcionários da Odebrecht, entre eles o ex-presidente da empreiteira Marcelo Odebrecht, começaram a negociar contratos de colaboração com procuradores da República em março deste ano. Mais de 25 selaram acordo para contar o que sabem em troca da redução de pena pelos crimes cometidos. Outros investigados ainda estão em negociação. Os procuradores já deixaram claro que só vão fazer acordos com aqueles que, de fato, apresentarem informações novas e relevantes.
Não está claro ainda se entre os acordos fechados está o de Marcelo Odebrecht. Procurado pelo GLOBO, o advogado Theo Dias, que defende Marcelo, disse que não fala sobre o assunto. Na proposta apresentada a Marcelo, os procuradores sugerem que ele cumpra, no mínimo, quatro anos de prisão, como informou ontem o jornal “Folha de S.Paulo”. A Odebrecht terá ainda que ressarcir integralmente os prejuízos aos cofres públicos, conforme cada caso de corrupção investigado ou ainda a ser esmiuçado até o fim da Lava-Jato.
Marcelo Odebrecht já foi condenado a 16 anos e quatro meses de prisão pelo juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, no primeiro processo aberto contra ele e outros executivos da empreiteira. A previsão é que, sem acordo de delação, o executivo poderia ser condenado a mais de 50 anos de prisão a partir de outros processos e inquéritos em andamento. Marcelo está preso desde 19 de junho do ano passado. Ele foi um dos últimos empreiteiros presos a admitir colaborar com as investigações.
Os acordos dos executivos da Odebrecht podem ser os mais explosivos da Lava-Jato. A maior empreiteira do país tem obras em praticamente todos os estados. Pela dimensão e complexidade, os acordos foram precedidos de longos embates entre procuradores, advogados e réus. Em determinado momento, os procuradores ameaçaram suspender as negociações se Marcelo e outros investigados insistissem na ideia de delação parcial.
O executivo teria, então, concordado em passar todas as informações. A partir daí, mas ainda com alguma resistência, funcionários da empresa ajudaram na busca de informações do Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht, área exclusiva para pagamento de propinas. Também ajudaram na garimpagem de dados de um segundo setor de propinas, ainda mais exclusivo que o primeiro. O pai de Marcelo, Emílio Odebrecht, também foi chamado a colaborar com as investigações, por exigência do Ministério Público Federal.
As delações da Odebrecht atingem políticos influentes de todos os grandes partidos. Mas, para ter validade, precisam ser homologadas pelo Supremo Tribunal Federal. Um juiz auxiliar do ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato, ouvirá cada executivo para saber se fizeram acordo de livre e espontânea vontade.
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