Folha de S. Paulo
Confiança do consumidor afunda; efeito
político e econômico maior só a partir de julho
A avaliação de Donald Trump despiorou.
Não é tão baixa quanto no final de abril. Mas está longe do nível do início de
mandato. A despiora ocorreu depois de Trump desistir do aumento mais lunático
dos impostos
de importação (tarifas), rendendo-se à reação dos mercados financeiros e às
pressões de executivos de grandes bancos e empresas. No Brasil, talvez
dissessem que Trump foi vítima de ataque especulativo.
O ruído político-midiático diminuiu, o preço das ações aumentou —62% das famílias têm ações, segundo pesquisa Gallup de 2024. A confiança do consumidor americano, porém, desceu aos piores níveis da história registrada, mais de 70 anos.
Qual pesquisa é mais relevante? O que vai ser
de prestígio presidencial e confiança do consumidor se ou quando o impacto das
"tarifas" e da "trumponomia" afetar preços e emprego? Tem
relevância para a economia e a política do mundo e daqui. Trump, a motosserra
de Elon
Musk e Javier
Milei inspiram as direitas da frente empresarial e política que quer
ver Tarcísio de Freitas presidente em 2027.
Além de "tarifas" e tombos nas ações, que são mais "pop", virá ainda o plano fiscal de Trump, mais risco.
A expectativa
de inflação do cidadão é a maior desde o começo dos anos 1980, de
carestia e choque recordes de juros. O índice de confiança da Universidade de
Michigan passou de 74 pontos em dezembro de 2024 para perto de 50 em maio.
Logo depois da posse, a aprovação de Trump
era de 52,4%; a desaprovação, 40%, saldo positivo de 12 pontos. No pico da
piora, em 29 de abril, de 44,1% e de 53,2%, respectivamente, saldo negativo de
9 pontos. Agora, 46,2% e 50,4%, saldo negativo de 4 pontos.
Despiorou, segundo média das pesquisas
calculada por Nate Silver. Considerados o tamanho da loucura, da ameaça
econômica e o medo da inflação, 46% de aprovação pode parecer muito.
Economistas americanos dizem que o possível
efeito das "tarifas" deve aparecer a partir de junho, tudo mais
constante. Nesta semana, dirigentes do Fed, o Banco
Central dos EUA, têm dito que três meses é o tempo mínimo para esperar para ver
como é que fica. Uma decisão sobre corte (ou não) de juros ficaria para
setembro, pelo menos.
Agora, discute-se o Orçamento de Trump. Vai
ter corte
de imposto para empresas e mais ricos, mais gasto em defesa, cortes em
assistência a saúde e alimentação de pobres. Os pobres são minoria nos EUA, mas
alguns vão sentir na carne o pacote fiscal republicano.
O
aumento projetado do déficit em 10 anos seria de US$ 2,75 trilhões
(apenas para auxiliar comparações, US$ 275 bilhões por ano, na média simples).
O déficit americano em 2024 foi de US$ 1,8 trilhão, o maior em 50 anos. A
dívida irá a 100% do PIB neste ano (ante 35% antes da crise de 2008 e 79% em
2019, antes da epidemia), a maior desde o fim da Segunda Guerra. Crescerá sem
limite.
O aumento do déficit tem mexido um tico nos
juros. Afora loucuras ainda maiores, é possível que esse descalabro prossiga,
sem choques graves ou imediatos no crédito americano, embora o risco aumente.
No auge da loucura das "tarifas", governos, empresas e endinheirados
do mundo venderam títulos da dívida americana (os juros subiram), o que levou
gente pesada de Wall Street a chamar uma conversa com Trump, atrás dos panos.
É bom prestar atenção. Terá relevância para
nosso dinheiro e nossa política também.
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