quarta-feira, 21 de maio de 2025

O Brasil estará preparado para as oportunidades do futuro? - Zeina Latif

O Globo

A insegurança jurídica, disseminada, retira potencial de crescimento do país e poderá impedi-lo de aproveitar satisfatoriamente as novas oportunidades

Tornou-se um mantra entre os economistas a frase “o Brasil está ficando velho antes de ficar rico”. Não é um problema exclusivamente brasileiro, sendo um tema para muitos países emergentes, mas aqui preocupa mais.

O Brasil tem envelhecimento populacional mais rápido do que a América Latina. O percentual da população acima de 60 anos correspondeu a 13,4% na América Latina e 15,8% no Brasil em 2022, aponta o IBGE. A taxa de fertilidade é baixa (1,6 filho por mulher), e a taxa de mortalidade de jovens, elevada (34% delas por homicídio, em 2023). As falhas nas políticas públicas pesam nesse resultado.

Para se ter uma ideia, enquanto a França demorou mais de 100 anos para que o número de pessoas com 65 anos ou mais passasse de 7% para 14% do total da população, o Brasil o fez em 25 anos. Os EUA, por sua vez, conseguiram que transição demorasse 67 anos, por conta da imigração em larga escala e de taxas de fecundidade historicamente mais estáveis.

A demografia desfavorável, com o encolhimento da população em idade de trabalhar a partir de 2036, aumenta o desafio do crescimento.

Há, porém, algumas oportunidades no horizonte. A primeira frente é a agenda ambiental. Segundo a McKinsey, o país tem condições privilegiadas para desenvolver o mercado voluntário de carbono, com potencial de gerar 15% de todo o potencial global de captura de carbono por meios naturais, e a custo competitivo.

Vale destacar a grande capacidade natural de regeneração da Floresta Amazônica, ensina Juliano Assunção, havendo só aí um potencial de captura de carbono de 18 bilhões de toneladas ou US$ 450 bilhões em um intervalo de 30 anos — segundo a Global Carbon Budget, a produção anual de carbono no mundo é da casa de 40 bilhões de toneladas.

Um ponto importante apontado pelo pesquisador é utilização da mão de obra jovem local para acelerar a recuperação das áreas desmatadas. Seria possível enfrentar três problemas simultaneamente: a degradação ambiental na Amazônia, que afeta o regime de chuvas e o clima de muitas áreas, inclusive de produção agrícola e de energia hidrelétrica; o elevado desemprego de jovens na região; e o mau uso da terra com atividades de baixo retorno.

É o caso da pecuária extensiva em pastagens degradadas, cuja produtividade é baixa. O pecuarista poderá ser compensado pelos créditos de carbono gerados com a regeneração da floresta — é a ideia de “a floresta ter mais valor de pé do que derrubada.”

A segunda frente vem da busca dos países por novos parceiros comerciais, como reação ao protecionismo do governo Trump — alguns segmentos da manufatura brasileira já veem aumento da demanda externa. Estão sendo retomadas discussões sobre acordos comerciais e o aprofundamento de relações econômicas. Um exemplo foi a reunião de países da UE para discutir o acordo com o Mercosul.

Quando confirmado, será o primeiro tratado bilateral relevante já negociado pelo Brasil. Ainda que o efeito prático seja modesto no curto-médio prazo, por conta do longo período de transição para a redução das tarifas e das salvaguardas para a indústria local, será um passo importante para a abertura comercial.

Esse continua sendo o melhor caminho para as empresas buscarem eficiência na produção e aumento da produtividade. Há também benefícios de ganhos de escala e da maior resiliência trazida pela diversificação das vendas.

Uma terceira frente é a implementação ampla da IA, tema já discutido neste espaço. Os ganhos para o Brasil, que sofre com a falta de capital humano e a baixa eficiência nas empresas, podem ser elevados.

Sem desconsiderar o desafio de formar e atrair inovadores em IA, as barreiras para implementação não parecem intransponíveis: a meta de universalização do 5G até 2029 é factível; o investimento na computação em nuvem avança com a construção de data centers; e há vantagem comparativa na geração de energia renovável para atender a alta demanda de computadores potentes.

Em todas essas frentes, o desafio comum é a garantia de marcos jurídicos adequados e estáveis em um país onde as regras do jogo mudam com frequência e sem critérios claros. Trata-se de condição básica para atrair o investimento privado.

A insegurança jurídica, disseminada, retira potencial de crescimento do país e poderá impedi-lo de aproveitar satisfatoriamente as novas oportunidades.

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