quarta-feira, 21 de maio de 2025

A Europa sucumbiu ao fascismo? - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Chega, o partido de extrema direita, se torna segunda força política de Portugal, mas discussão é mais complexa

desempenho do Chega, o partido de extrema direita português, no pleito de domingo (18) nos dá razões para preocupação. A legenda, que fizera um único deputado na eleição de 2019, obteve agora 23% dos escrutínios, empatando com os socialistas como segunda força da política lusitana.

Quem explica bem a trajetória de partidos como o Chega é o cientista político Vicente Valentim (Oxford) em "The Normalization of the Radical Right", livro que já comentei aqui. Num resumo grosseiro, eleitores têm ideias de direita, mas, por motivos reputacionais ou estratégicos, não as expressam em público nem nas urnas enquanto sentem que existe reprovação social a essa ideologia. Os diques, porém, só funcionam até certo ponto.

Em algum momento esses eleitores descobrem que não estão sós e perdem a vergonha. Daí as ascensões explosivas das siglas da extrema direita, que, no espaço de dois ou três pleitos, vão da insignificância a porção significativa dos Parlamentos nacionais.

Esse é o fenômeno da normalização, que não deve ser confundido com um outro movimento, o de moderação, que pode ou não acompanhá-lo. O melhor exemplo de moderação seria o da premiê italiana, Giorgia Meloni.

Embora integre uma legenda com origens fascistas, ela, no poder, mostrou-se indistinguível de governantes conservadores de partidos não radicais. Não cruzou nenhuma linha vermelha e até reviu seu relacionamento próximo com Putin. O raciocínio aqui é que, se você passa muito tempo fingindo algum tipo de moderação para não espantar eleitores, acaba introjetando ideias moderadas.

Quem quiser confundir ainda mais as coisas pode lembrar, na linha de Vincent Tiberj, que, apesar do crescimento da direita e da crise das esquerdas, não são poucas as ideias de esquerda que triunfaram e se tornaram consensos sociais, como a da igualdade entre homens e mulheres e do direito a casamento para homossexuais. Alice Weidel, a líder da extrema direita alemã, é abertamente gay, casada com uma imigrante.

O mundo é um lugar complicado.

 

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