quarta-feira, 21 de maio de 2025

Expulsando ‘fascistas’ do campus - Wilson Gomes

Folha de S. Paulo

Performance alimenta a ideia de que a universidade é um feudo ideológico

A imagem das universidades públicas brasileiras talvez nunca tenha sido tão ruim. É crescente o número de pessoas convencidas de que se trata de um desperdício de recursos, já que essas instituições estariam mais empenhadas em formar militantes radicais de esquerda —e não os profissionais de que o país precisa—, além de oferecerem a estudantes privilegiados um parquinho privado e caríssimo para o desfrute narcisista, entre pares, de sua ideologia.

Em vez de entregar formação de alto nível, ciência e inovação, as universidades seriam parte da linha de produção da elite identitária. E, longe de espaços de liberdade intelectual, teriam se tornado ambientes intolerantes ao pluralismo de ideias e clubes privados dos progressistas, desconectados da população que os sustenta.

Não deveria ser necessário dizer isso, mas, nestes tempos em que a raiva política precede a leitura do texto, é preciso esclarecer: trata-se da percepção pública. Sei que as universidades públicas são muito melhores do que a imagem que delas fazem seus detratores. Acontece que, na hora da decisão parlamentar sobre os enormes orçamentos das universidades, ou quando se discute, por exemplo, se vale a pena gastar tanto com o ensino superior em vez da educação básica —dado o cobertor curto da fazenda pública—, é essa percepção, não a realidade, que costuma decidir as coisas.

Feito o diagnóstico, surgem os clichês para justificar os fatos. A esquerda tem uma coleção deles, que vai desde o "à direita interessa destruir a universidade pública para manter a dominação da elite" até o "a extrema direita sabe que a universidade é a última resistência contra o fascismo". Mas recusa qualquer explicação sobre a deterioração da imagem das universidades públicas que envolva os próprios progressistas e as consequências de seus atos.

Esses atos, contudo, não são poucos. Não vou comentar o uso da universidade como laboratório de provocação social por parte de vanguardas identitárias, nem os cancelamentos semanais de professores acusados de racismo, misoginia ou transfobia, com ampla repercussão. Tampouco o avanço do lobby trans nas universidades, que, a golpes de acusações de transfobia, vem aprovando, de forma atropelada, cotas para pessoas trans em todos os níveis. Sobre isso, gostaria muito de entender como a esquerda pretende explicar aos eleitores, no ano que vem, que "pessoas não binárias" são vítimas mais merecedoras de políticas compensatórias do que, por exemplo, adolescentes mães solteiras ou filhos de pais analfabetos.

Tudo isso tem um impacto tremendo sobre o que se pensa das universidades públicas, mas hoje quero chamar atenção para outro fenômeno: a violência contra "intrusos" de direita. Na semana passada, foi na Universidade Federal Fluminense; na anterior, na Universidade Federal de Minas Gerais. Toda semana há um novo episódio.

O roteiro é conhecido. Provocadores de direita, cientes da imagem que as universidades têm, visitam determinados campi para demonstrar que são ambientes de uma só ideologia, usados como propriedade ideológica privada pelos progressistas e, além de tudo, intolerantes e violentos. E, invariavelmente, provam-no. Filmam pichações, banheiros degradados e registram o uso político "monoideológico" do espaço público. Por fim, são expulsos por turbas de estudantes de esquerda, à base de tapas, ameaças, pauladas e berros de "recua, fascista, recua!". Tudo isso transmitido ao vivo em canais digitais.

O provocador obtém, invariavelmente, o que foi buscar: a demonstração de que a esquerda não suporta divergências, de que não há espaço para conservadores na universidade, de que os progressistas são dogmáticos e violentos. Os estudantes de esquerda, também. Afinal, consideram-se guerreiros da justiça que enfrentaram mais uma batalha contra bárbaros fascistas que ousaram entrar em seu território, e acreditam ter defendido a democracia dos intolerantes —mesmo que à base de pauladas e insultos, como deve ser. No dia seguinte, reitorias e conselhos lamentarão, não o fato de que pessoas tenham sido expulsas do campus por razões ideológicas, mas o fato de que "pessoas estranhas à comunidade" tenham ousado conspurcar os nossos templos do saber e da liberdade.

Todos ganham: cada lado confirma a própria superioridade moral e comprova que o outro é intolerante e perigoso. Só quem perde é a universidade pública, claro. Mas quem se importa? Há causas mais urgentes a cumprir —como "destruir o fascismo", para uns, ou "provar que a universidade é um antro de reprodução de militantes com dinheiro público", para outros.

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