O Estado de S. Paulo
A semana começa como começara a anterior,
submetido o Brasil a um grau de imprevisibilidade alto até para os nossos
padrões de instabilidade. Nosso padrão de instabilidade: o de um País cuja
suprema corte – um juiz sozinho – declara a constitucionalidade do uso de imposto
regulatório para fins de arrecadação. Nunca é fácil se planejar aqui. Nunca foi
tão difícil. Ninguém tira o pé.
A semana começa acossada pela perspectiva de os EUA aplicarem a Lei Magnitsky contra Alexandre de Moraes e bancada. Sanção que equivale a um banimento. Donald Trump não tira o pé. Ninguém tira. Os Bolsonaro não tiram, exclusivamente interessados em salvar o mito da cadeia – a agenda que sequestrou a direita. Ninguém tira o pé.
A semana passada acabaria com Xandão, dublê
de tributarista, investindo contra a própria natureza da representação
democrática, determinada a prisão de um deputado – que armara barraca e
mantinha a boca tapada por um esparadrapo – caso insistisse em permanecer
acampado defronte ao STF. Um parlamentar só pode ser preso em flagrante de
crime inafiançável. Não é o caso de “resistência ou desobediência ao ato de
autoridade pública”.
Não é? Cria-se. Ninguém tira o pé.
O custo da insegurança jurídica entre nós
será sempre muito mais elevado do que aquele, qualquer que seja, a derivar do
tarifaço. Não se avista horizonte, donde a impossibilidade racional de dar
passos. Não no Brasil. Ainda que incerto o chão e, pois, temerária a
progressão, aqui nos lançamos à correria dos voluntariosos. Sempre termina em
briga de rua.
Está tudo muito acelerado. Todos, acelerados.
Ninguém pondera; isso significando também restringir os atos de coragem aos
limites legais do poder. Todos se espalham. Temos muitos valentes. Em termos de
ação institucional, considerados os marcos da República, valentes não raro
serão os irresponsáveis. Temos muitos heróis salvadores. Faltam os salvos.
Não será exagero denunciar a escassez de
agentes políticos – homens públicos com poder decisório – preocupados com o
brasileiro ferrado, o que deveria ser a prioridade. Aqui, uma certeza: o
brasileiro ferrado pagará a conta. Trump não se preocupa com ele. Quem se
preocupa?
O horizonte que interessa à turma e em função
do qual Brasília se organiza é o eleitoral; o dos impactos das sanções sobre o
voto. O oportunista Lula se animou. Avalia ter encontrado, ao preço do tecido
social, um texto dentro do qual desenvolver – incluindo o império ianque – o
“eles contra nós”.
Não há horizonte. Nem negociação. Haverá o
primeiro de agosto, a próxima sexta-feira, dia a partir do qual – tudo o mais
constante – pagaremos a conta na forma de quebra na produção, desemprego e
inflação. Essa fatura hoje é carga no lombo dos Bolsonaro, facção cuja
atividade consiste em conservar-proteger a lucrativa empresa familiar. Essa
fatura ainda será de Lula, o incumbente. Não há horizonte. Ninguém tira o pé.
Pode não dar pé.
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