quarta-feira, 24 de dezembro de 2025

Moraes ligou 6 vezes em um dia para Galípolo sobre Master, diz jornal; ministro nega telefonemas

Por Folhapress / Valor Econômico

O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), teria ligado seis vezes em um mesmo dia para o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, para saber do andamento da análise da operação de compra do Banco Master pelo BRB (Banco de Brasília), segundo reportagem do jornal “O Estado de S. Paulo”.

Em novo comunicado divulgado na noite desta terça-feira (23), Moraes disse que "inexistiu qualquer ligação telefônica entre ambos, para esse ou qualquer outro assunto".

O magistrado confirmou a realização de duas reuniões com Galípolo, em 14 de agosto e 30 de setembro. Segundo ele, os encontros tinham como objetivo tratar dos efeitos da aplicação da Lei Magnitsky, que prevê sanções financeiras e foi usada pelo governo dos Estados Unidos contra Moraes e sua mulher, Viviane Barci de Moraes.

"Em nenhuma das reuniões foi tratado qualquer assunto ou realizada qualquer pressão referente à aquisição do BRB pelo Banco Master", afirmou.

O ministro disse ainda que o escritório de advocacia de sua esposa --que possui contrato com o Master-- "jamais atuou na operação de aquisição BRB-Master perante o Banco Central".

O Master teve a liquidação decretada pelo BC em 18 de novembro, e seu controlador, Daniel Vorcaro, foi preso pela Polícia Federal diante da suspeita de fraudes de R$ 12 bilhões. Dias depois, ele foi solto pela juíza Solange Salgado da Silva, do TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região), que determinou o monitoramento por tornozeleira eletrônica.

Segundo a reportagem de O Estado de S. Paulo, a série de telefonemas seria parte de uma de ao menos cinco conversas entre Moraes e Galípolo sobre o Master.

A informação foi obtida pelo jornal com pessoas do meio jurídico e do mercado financeiro que ouviram relatos de um dos envolvidos.

Os relatos de que Moraes teria procurado o presidente do BC para conversar sobre o Master ampliaram os questionamentos sobre o magistrado. A notícia foi publicada inicialmente pela colunista Malu Gaspar, do jornal O Globo, citando quatro contatos entre o ministro e o chefe da autoridade monetária para tratar do assunto.

Políticos de oposição cobraram explicações do ministro. Eles destacaram a informação, revelada anteriormente, de que o escritório da mulher do magistrado teria um contrato de R$ 3,6 milhões mensais para defender os interesses do Master.

De acordo com outra reportagem do jornal O Globo, a contratação do Barci de Moraes Sociedade de Advogados teria validade de 36 meses, a partir do início de 2024. Com isso, o acordo renderia, até o início de 2027, R$ 129 milhões ao escritório, caso o Master não tivesse sido liquidado pelo Banco Central. Integram o escritório a esposa do ministro e dois filhos do casal.

Em uma primeira nota, Moraes afirmou ter recebido Galípolo para reuniões "em virtude da aplicação da Lei Magnitsky". Inicialmente, o ministro não citou a data do encontro. Ele se tornou alvo de sanções financeiras pelo governo dos EUA em 30 de julho, e a punição foi retirada no dia 12 de dezembro. Segundo O Globo, o encontro com Galípolo teria ocorrido em julho.

No primeiro comunicado, o ministro não comentou diretamente os relatos de que teria pedido a aprovação do negócio entre o Master e o BRB.

Na nota divulgada na noite desta terça, Moraes disse que a primeira reunião ocorreu em 14 de agosto, após a primeira aplicação da Lei Magnitsky. Já o segundo encontro, disse o ministro, se deu em 30 de setembro, após a mesma lei ter sido aplicada sobre Viviane, em 22 de setembro.

"Em nenhuma das reuniões foi tratado qualquer assunto ou realizada qualquer pressão referente a aquisição do BRB pelo Banco Master. Esclarece, ainda, que jamais esteve no Banco Central e que inexistiu qualquer ligação telefônica entre ambos, para esse ou qualquer outro assunto", afirmou.

Mais cedo, o BC também emitiu uma nota em que afirmou que "manteve reuniões com o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, para tratar dos efeitos da aplicação da Lei Magnitsky". A instituição não detalha datas ou os nomes dos integrantes que estiveram com o magistrado e também não comenta os relatos de pressão pela liberação da venda do Master.

Comunicados desse tipo, em que o BC informa reuniões de seus integrantes com membros externos, são pouco usuais na operação da instituição. Embora o BC admita que manteve reuniões com Moraes, os encontros não constam na agenda pública do presidente do órgão, Gabriel Galípolo, nem nos compromissos dos oito diretores que integram a autoridade monetária. Procurado, o BC não se manifestou sobre a falta de registro das reuniões.

O nome de Moraes consta uma única vez na agenda de Galípolo, no dia 29 de setembro, quando o presidente do BC participou da posse dos ministros Edson Fachin e Alexandre de Moraes nos cargos de presidente e vice-presidente do STF e do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), em Brasília. Mas não há indicativo de que eles teriam se reunido nessa ocasião.

 

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