Por Denise Neumann – Valor Econômico
SÃO PAULO - A estabilidade da taxa de desemprego em setembro é uma boa notícia, mas precisa ser relativizada, porque embute expressiva redução mensal de vagas. Pelos dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE foram fechados 41 mil vagas em setembro, maior corte mensal deste ano.
O desemprego ficou estável em setembro por diferença estatística (redução de 34 mil pessoas no total da população ativa) e porque mais 11 mil pessoas se declararam fora do mercado de trabalho (resolveram não procurar emprego embora estejam em idade ativa). É dessa combinação que surgiu a estabilidade na taxa de desemprego.
O comportamento regional do mercado de trabalho mostra dados muito divergentes (entre regiões e setorialmente), o que é mais um sinal que pede atenção para setembro e sugere que a estabilidade pode ser um ponto fora da curva. Em São Paulo o desemprego caiu, foram abertas 75 mil vagas com carteira assinada, mas outras 87 mil pessoas ficaram desempregadas. Nessa região, a queda da desocupação foi claramente provocada pela saída de 70 mil pessoas do mercado de trabalho.
No Nordeste, o desemprego continuou avançando. Pela primeira vez desde julho de 2010, a taxa superou 10% em Recife (10,4%), e continuou subindo forte em Salvador, onde alcançou expressivos 13%.
O resultado de setembro também traz sinais que merecem atenção pelo lado positivo. O emprego com carteira assinada subiu pelo segundo mês seguido, pós queda quase contínua nos primeiros sete meses do ano, o que gerou fechamento de 558 mil postos formais. Em setembro começam contratações de temporários para o fim do ano. Com certeza estão mais fracas que em outros momentos, mas o fato de terem sido capazes de impor algum freio ao movimento de piora do mercado de trabalho não deixa de ser um bom sinal.
Se na média do país a piora no nível de emprego deu uma pausa em setembro, o ajuste do mercado de trabalho pela renda continuou. Na comparação com 2014, o rendimento médio real dos ocupados foi 4,3% menor que em setembro do ano passado. Por um critério trimestral, a queda no trimestre encerrado em setembro está em 3,4%, semelhante ao dos trimestres anteriores, mostrando a correção consistente no valor dos salários. Na comparação com agosto houve queda real de 0,8%, após três meses seguidos de alta no rendimento médio (variação positiva de 1,61% no acumulado de junho a agosto).
Apesar da "parada" no movimento de queda do desemprego em setembro, é muito cedo para imaginar que a correção no mercado de trabalho tenha acabado. A renda tende a cair mais e a ocupação deve voltar a recuar. Fica a esperança que setembro seja um sinal de que a inflexão pode ser menos vigorosa do que se previa.
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