- Delator diz que Odebrecht e Petrópolis são sócias no Caribe
Delator da Lava-Jato, o operador Vinícius Veiga Borin, ligado à Odebrecht, revelou que a empreiteira e o Grupo Petrópolis, que é proprietário da cervejaria Itaipava, compraram o Meinl Bank Antígua, no arquipélago caribenho de Antígua e Barbuda. De acordo com ele, a instituição financeira era usada para pagar propina e movimentou ao menos R$ 1,6 bilhão.
Banco com alto teor de propina
• Odebrecht e Grupo Petropólis foram sócios em instituição no Caribe
Cleide Carvalho e Renato Onofre - O Globo
-SÃO PAULO- Executivos e operadores ligados à Odebrecht e ao Grupo Petrópolis, controlador da cervejaria Itaipava, foram sócios em um banco no Caribe usado pela construtora para pagar propina. Em depoimento à Lava-Jato, o mais novo delator, Vinícius Borin, afirmou que o Meinl Bank Antígua, no arquipélago de Antígua e Barbuda, foi comprado para estruturar o pagamento de recursos ilícitos da construtora.
O responsável pela compra do banco foi Luiz Eduardo Soares, um dos executivos do Setor de Operações Estruturadas, que o Ministério Público considera a diretoria de propina da Odebrecht. Além de Soares, participou da aquisição do banco Vanuê Faria, na época conselheiro e responsável pela área financeira do Grupo Petrópolis, segundo o delator. Vanuê é sobrinho de Walter Faria, dono do Grupo Petrópolis.
Em delação premiada, ainda não homologada pela Justiça, Borin afirmou que o Meinl Bank Antígua movimentou cerca de US$ 1,6 bilhão em seis anos, boa parte em pagamento de propinas. A aquisição do banco, noticiada pelo jornal “O Estado de S. Paulo”, foi feita em nome de terceiros, e o objetivo, segundo o delator, era facilitar a ocultação dos repasses. Não é a primeira vez que a Odebrecht e o Grupo Petrópolis aparecem juntos na Lava-Jato. Na 26ª fase, a força-tarefa encontrou indícios de que, juntas, as duas movimentaram pelo menos US$ 117 milhões para pagar propinas entre 2008 e 2014.
O Meinl Bank Antígua foi comprado em 2010. Os executivos adquiriram 51% da instituição por US$ 3,984 milhões. Mais tarde, a participação chegou a 67%. Antes, eles chegaram a cogitar a compra de outro banco na mesma ilha, o Antígua Overseas Bank (AOB), que já era usado para pagar propinas e se tornou insolvente. A Odebrecht perdeu US$ 15 milhões com a insolvência do AOB, e Walter Faria, US$ 50 milhões.
Contratos falsos
Com a falência do OAB, surgiu a ideia de comprar o Meinl Bank Antígua, onde pelo menos 42 contas foram abertas para a Odebrecht e usadas para pagar propinas. Todas foram abertas em nome de terceiros, como Fernando Migliaccio, ex-funcionário da Odebrecht, e Olívio Rodrigues Junior, que foi sócio da Graco Corretora. Para justificar as transferências de dinheiro eram firmados falsos contratos de prestação de serviços.
O delator identificou 28 contas que receberam US$ 132,6 milhões da Odebrecht por meio do banco. Todas pertencem a offshores, entre elas a Shell Bil, do marqueteiro João Santana, que recebeu US$ 16,6 milhões. O publicitário comandou as campanhas do PT à Presidência — as duas que elegeram Dilma Rousseff e a do ex-presidente Lula em 2006.
A Odebrecht também transferiu, por meio de contas no Meinl Bank Antígua, US$ 5,3 milhões para a conta RFY Import, de Leonardo Meirelles, que trabalhou com o doleiro Alberto Youssef. A RFY já apareceu na Lava-Jato como uma das contas usadas por Youssef para repassar US$ 5,1 milhões em dinheiro para o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afastado da presidência da Câmara. Até o momento, não há ligação entre o dinheiro repassado pela Odebrecht a Meirelles com o valor pago a Cunha.
O delator não envolve diretamente a cervejaria no esquema, só informa que era sócia da Odebrecht no banco e que distribuidoras de bebidas ligadas ao Grupo Petrópolis fizeram doações eleitorais. Na 23ª etapa da Lava-Jato, foi achada com um diretor da Odebrecht planilha em que essas empresas aparecem fazendo doações a políticos, entre eles Aécio Neves (PSDB-MG).
No único depoimento de Borin revelado, o operador diz não saber se todos os recursos movimentados pela instituição eram ilegais, “mas acredita que a maioria, sim”. Borin disse que a maioria das contas foi fechada em 2015, após as offshores surgiram na Lava-Jato e que Marcelo Odebrecht foi preso.
De acordo com o delator, Felipe Montoro Jens e Fernando Migliaccio, representantes da Odebrecht, chegaram a sugerir que os executivos do Meinl deixassem o Brasil e se mudassem para Portugal, República Dominicana ou Antígua, já com a intenção de dificultar o rastreamento da Lava-Jato, pois as operações eram coordenadas do Brasil. O grupo teria chegado a pensar em comprar o restante da participação no banco, para fechá-lo e sumir com a documentação.
Parte dos recursos movimentados pelo banco voltava ao Brasil. Na contabilidade paralela da Odebrecht, o retorno era identificado com codinomes, como operação Dragão, Kibe e Esfiha. Entre os responsáveis em providenciar os reais estava o chinês Wu-Yu Sheng, dono de quatro contas no banco, que trabalhava para comerciantes da Rua 25 de Março, em São Paulo. Após a Lava-Jato, diz Borin, Wu-Yu teria deixado o país e foi morar na Flórida (EUA).
Também assinaram delação Luiz Augusto França e Marco Pereira de Souza Bilinski, que atuaram com Borin nas operações. Ontem, o juiz Sérgio Moro suspendeu os depoimentos dos três, previstos para amanhã. Eles seriam testemunhas de acusação na ação que investiga a “diretoria de propina da Odebrecht”.
Em nota, o Grupo Petrópolis diz que nunca foi sócio do Meinl ou outro banco. Diz que Vanuê foi conselheiro do grupo de agosto de 2010 a junho de 2011, e que “não há informações acerca das atividades desenvolvidas por ele” fora da empresa. O grupo diz que “nunca autorizou quem quer que seja a agir em seu nome”.
Sobre a relação com a Odebrecht, o grupo informou que ela “sempre ocorreu no âmbito legal, sem qualquer vínculo com os fatos citados”, e que a empresa “nunca participou de atividade relacionada” aos fatos apurados na Lava-Jato.
Nenhum comentário:
Postar um comentário