- Folha de S. Paulo
Bancada da farda quer evitar ruptura que pode prejudicar pretensões eleitorais
A cobrança de Jair Bolsonaro (PSL) pelo fim da paralisação dos caminhoneiros e a reação de militares aos pedidos de golpe para derrubar Michel Temer refletem uma guinada estratégica. Os políticos alinhados à farda querem assumir o poder pela porta da frente. Para isso, precisam manter o ambiente de crise até a eleição, mas no limite da ruptura.
O sucesso de Bolsonaro nas pesquisas presidenciais e a multiplicação de candidatos com origem nas Forças Armadas elevou a expectativa de sucesso desses grupos nas urnas.
“Na minha opinião, dos meus amigos generais, se tiver de voltar um dia, que volte pelo voto. Aí chega com legitimidade”, disse o presidenciável do PSL, em sua entrevista à Folha.
A preocupação é evidente. Uma fissura a cinco meses da eleição —com a renúncia de Temer ou um golpe militar— provocaria uma desordem institucional e abriria um portal de incertezas. Nessas duas hipóteses, Bolsonaro e seus amigos provavelmente não herdariam o poder.
Para evitar uma ebulição fora de controle, os militaristas decidiram modular o discurso em relação à crise dos caminhões. Na contramão de sua base eleitoral, passaram a defender o fim da paralisação e se posicionaram contra o discurso intervencionista que surgiu nas estradas.
“Tem gente que quer as Forças Armadas incendiando tudo. E a coisa não pode ser assim”, afirmou o general da reserva Antônio Mourão.
Já Paulo Chagas, também general da reserva, tenta convencer seus seguidores nas redes sociais de que a ascensão deve ocorrer pelo voto. “A mudança começa agora, quando temos oportunidade de escolher outros e melhores políticos”, escreveu.
A pregação costuma vir acompanhada de uma ressalva: o questionamento da segurança das urnas brasileiras. Trata-se de uma válvula de escape que os permitirá alegar fraude em caso de fracasso eleitoral.
“Temos que ir às urnas. Se houver falcatrua, os caminhoneiros já nos ensinaram o que temos que fazer!”, publicou Chagas. Foi chamado de traidor por um defensor do golpe.
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