A partir de março de 1958, quando o PCB anunciou a nova política de reforma do capitalismo a partir da vigência da democracia política, Armênio Guedes sempre aparece como um dos seus formuladores.
A rigor, desde de 1956 ao publicar o texto seminal “Algumas ideias sobre a frente única no Brasil” (cf. Guedes, 1956), Armênio Guedes e Marco Antônio Coelho com seu texto de 1960 “A tática das soluções positivas” (no qual cita Enrico Berlinguer, dirigente do PCI do “caminho italiano ao socialismo”) são os quadros pecebistas concretizadores da nova política. Pensando na trajetória do seu PCB, o mesmo Marco Antônio Coelho registra que Armênio Guedes tornar-se-ia a figura que mais influiu durante várias décadas na orientação política do partido (Coelho, 2010).
Ao completar 95 anos, nesta 2ª. feira, dia 17/6, quando a editora Barcarola lançará a partir das 18.30h na Livraria da Vila da Alameda Lorena, em São Paulo, o livro Armênio Guedes – Sereno guerreiro da liberdade, de autoria Sandro Vaia, Armênio Guedes significa muito para o país, hoje sob pleno Estado democrático de direito.
Na Era Lula, mais nos últimos tempos, tem-se divulgado extensamente uma versão de sobre a derrota do regime de 1964 sem se realçar os grandes protagonistas, o MDB/PMDB, os pecebistas ativos neste campo democrático. Esquece-se o dado fundamental: a estratégia que derrota o regime de 1964 teve como seu centro a política.
Armênio Guedes emerge em meio a essa diluição justamente como um dos artífices daquela estratégia de resistência. E mais: ele continua a ser referência da esquerda democrática, como disse o deputado Roberto Freire no seu discurso na Câmara, 3ª. feira da semana passada, dia 11/6. Como expressão de um campo que está disponível à interpelação das atuais esquerdas (em particular do PT), não só pelo seu valor de cultura política, mas “por sua projeção futura para a política e a cultura em nosso país” (Freire, 2013) “Um campo formado, entre muitos outros, por Astrojildo Pereira (ele mesmo um dos mestres de Armênio), Graciliano Ramos, Jorge Amado, Mário Lago, Caio Prado Jr., Alberto Passos Guimarães, Nelson Werneck Sodré, Oduvaldo Viana Filho, Ferreira Gullar e Luiz Werneck Vianna” (idem). Assim terminou o presidente do novo partido Mobilização Democrática o seu pronunciamento parlamentar: “Armênio Guedes continua a ser uma das maiores referências da esquerda democrática do nosso país”.
Durante sua longa militância e em toda sua publicística, Armênio se idenficava com a valorização da política em si mesma. Ainda ontem, ele voltou ao tema no qual já insistira no Programa do Jô da semana passada, ao dizer ao Estado de São Paulo que sua postura no grande debate dos socialistas do último quartel do século XX (trazido pelo PCI e por Berlinguer) sobre o “caminho democrático ao socialismo”, ele o situava noutro plano, o do “caminho democrático para a democracia”. E precisava a O Estado de São Paulo esse ponto: “A democracia não é o fim da História”; a democracia traz novos problemas que se resolvem democraticamente” (Programa do Jô).
Referências bibliográficas
Guedes, Armênio Guedes, “Algumas ideias sobre a frente única no Brasil, in Novos Rumos, out.-nov. de 1956.
----------. “Uma ação positiva das forças nacionalistas”, Voz Operária, 28/6/57.
Coelho, Marco A. “A tática das soluções positivas”, in Novos Rumos, São Paulo, 19 de jul a a 4 de agosto 1960.
________. Entrevista a Ilustríssima, Fôlha de São Paulo, 19/12/2010.
Programa do Jô, dia 10/6/2013.
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