O Banco Central (BC) tem reiterado sua confiança em relação ao desempenho do crédito. Na segunda-feira o presidente do BC, Ilan Goldfajn, em evento com empresários, disse que o mercado "apresenta melhoras". As taxas de juros medidas pelo Indicador de Custo de Crédito (ICC) seguem em queda, assim como o spread, contrapondo, porém, que deseja que a redução seja mais rápida.
Também na segunda-feira o BC divulgou dados que mostram que a taxa média de juros para os empréstimos contratados em abril ficou em 25,9% ao ano, com redução de 4,2 pontos percentuais em 12 meses - uma melhora considerada tímida diante do vigoroso corte de quase 5 pontos nos juros básicos no período. A taxa das pessoas jurídicas caiu de 16,6% em março para 16% em abril; e para pessoas físicas, de 33% para 32,8%.
O que avança mais lentamente ainda, no entanto, é a oferta de recursos. O saldo das operações de crédito subiu 0,3% em abril, para R$ 3,09 trilhões, mas estacionou no ano e acumula expansão de 0,6% em 12 meses, em termos nominais, o que significa um decréscimo em termos reais na comparação com a inflação do período. Mas o BC comemorou que o saldo total, que vinha em queda desde agosto de 2016, teve variação positiva nos últimos dois meses na comparação anual. O que permanece segurando os números é o crédito direcionado para empresas, em função das operações do BNDES. O saldo do crédito direcionado encolheu 0,1% de março para abril, e 5,5% em 12 meses, totalizando R$ 1,48 trilhão. O saldo das operações com pessoas físicas cresceu 0,6% no mês e 6,4% em 12 meses.
O desempenho parece mais promissor quando se examinam as concessões. Embora tenham diminuído 0,4% em abril, totalizando R$ 300 bilhões, permanecem em trajetória de expansão quando se consideram prazos mais longos, como aumento de 12,9% no ano e de 7,7% em doze meses. Nesse tipo de avaliação, os bancos parecem mesmo mais dispostos a oferecer recursos para as pessoas físicas, cujas concessões cresceram 12,4% no ano e 10,7% em 12 meses, do que para empresas, que viram aumento de 13,4% no ano, mas de apenas 4% em 12 meses.
Em debate com empresários, Goldfajn voltou a desfiar o extenso leque de providências que vem tomando para incentivar e, principalmente, baratear o crédito no âmbito da Agenda BC+, com foco no ataque aos principais pontos que, na sua avaliação, pressionam os juros no país, entre os quais relacionou os custos operacional e regulatório, a falta de boas garantias, a necessidade de mais informação, os subsídios cruzados, os altos compulsórios, e as distorções na estrutura de concorrência.
Entre os mecanismos para reforçar as garantias mencionou a Letra Imobiliária Garantida (LIG), já regulamentada, e a revisão das regras do cadastro positivo para facilitar o acesso à informação por parte dos bancos pequenos e médios, estimulando a competição do mercado de crédito. Com esse mesmo objetivo, o BC vem incentivando as fintechs. A competição também vem sendo promovida nos meios de pagamento e na portabilidade dos produtos e serviços financeiros. Para racionalizar as regras dos bancos promoveu a redução dos depósitos compulsórios.
Com impacto direto nos juros, o BC promoveu mudanças nas regras do cartão de crédito e do cheque especial, campeões de juros no Brasil e no mundo. Entre as medidas tomadas está a limitação do período do uso do crédito rotativo do cartão, o que abriu espaço para a queda das taxas e reduziu a inadimplência. A taxa dessa operação, que era de 431% ao ano em março de 2017, antes das mudanças, caiu para 243,5% em março passado e para 288,75 em abril. O BC acredita que a taxa pode recuar mais com a redução dos subsídios cruzados.
O BC prevê que o crédito vai fechar o ano com crescimento de 3,5%. Se a previsão se confirmar, será o primeiro ano de expansão desde 2015. Para isso, o saldo deveria crescer 0,3% ao mês, como em abril. Mas, até agora no ano, apresentou variação zero. E o cenário macroeconômico está cada vez mais desfavorável. A paralisação dos caminhoneiros promete trazer ainda mais complicação, esfriando o impulso de recuperação da economia.
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