Bolsonaro não está sozinho na intervenção na Petrobras. Apesar das críticas de analistas e da reação negativa de investidores, há vozes favoráveis à mudança na política de preços de combustíveis, com a visão de que estes deveriam refletir o custo interno corrente de produção (como se não houvesse dívida do investimento feito a ser honrada), e não os preços internacionais.
Com
preços artificialmente baixos, a Petrobras teria de elevar sua capacidade de
refino, pois o Brasil não é autossuficiente - no diesel, a importação
representa 24% do consumo e na gasolina, 12%, na média de 2017-20.
Além
disso, investimentos privados, como a aquisição de refinarias da Petrobras,
ficariam comprometidos. O pouco interesse nos leilões recentes da empresa já
refletiu o temor de intervenção no setor.
Abraçar esse modelo seria a volta a um passado que não deu certo. Os governos petistas combinaram o represamento de reajustes de preços e o investimento em refinarias, dilapidando a empresa.
Tudo
isso sem a garantia de que os preços internos seriam mais baixos no futuro,
tendo em vista as várias ineficiências da ação estatal, sem contar o flanco
aberto para a corrupção.
Usando
o jargão dos economistas, há um “custo de oportunidade” elevado de não seguir
os preços internacionais: a receita perdida pela empresa, que poderia ser
utilizada para investimentos e pagamento de dividendos à União, e a necessidade
de projetos de retorno duvidoso.
Investir
recursos públicos em refinarias, que poderiam ser privadas, não seria adequado
diante de tantas carências em áreas que cabem ao estado. Erro ainda maior no
contexto atual de grave crise fiscal.
Aquilo
que é visto como um benefício aos consumidores hoje significa perdas para todos
no futuro. E foi de tanto focarmos no curto prazo que sacrificamos gerações.
Aparentemente,
a intenção do governo é algo intermediário, “apenas” limitando pontualmente a
alta de preços. A motivação seria atender a pressões de caminhoneiros, que,
diga-se de passagem, não estão no grupo dos que mais sofrem com a atual crise.
Basta
citar o aumento de 2,2% no movimento pesado nas principais praças de pedágio em
janeiro em relação ao observado um ano antes, enquanto as vendas de diesel
subiram 16% em 2020.
Pode
ser também que o presidente, mirando 2022, esteja reagindo à queda de aprovação
do seu governo, conhecedor de que importante parcela da sociedade é favorável
ao controle de preços de derivados. O apoio pode até ter aumentado, pois, nas
crises, a sociedade tende a desejar maior intervenção estatal.
Pelo
jeito, estamos pulando de um 2020 que não termina para 2022.
Para
alguns, não haveria pecado nisso, pois presidentes anteriores o fizeram.
Desculpa torta. O que se espera dos governantes é o amadurecimento e a evolução
da agenda econômica. Repetir erros tem outro nome: retrocesso.
Mesmo
que pontual, a ação de Bolsonaro abre uma caixa de Pandora – aquela caixa da
mitologia grega que, uma vez aberta, libera um arsenal de desgraças e males.
Quebrar uma importante regra do jogo implica mais insegurança nos
investimentos. Custo-Brasil na veia.
As
consequências não são apenas para o médio e longo prazos. Parte da fatura é
para já, com a piora da confiança de empresários e investidores e a
deterioração dos cenários para dólar, inflação e juros. Tudo o que o País não
precisa no momento.
A
decisão ainda revela um presidente que desconhece as consequências econômicas
de suas decisões sobre a estatal e a economia, e que não tem projeto de governo
ou agenda econômica estruturada. Um governante desorientado em meio à
tempestade.
A
propósito, se esse tema era tão importante para o governo, por que não estudou
formas de suavizar preços com políticas públicas que não prejudiquem a
Petrobras e as demais empresas do setor? Propostas havia, como a de fazer um
fundo de estabilização, de Adriano Pires.
Ao
menos os freios e contrapesos reagem, apontando o desrespeito à Lei das
Estatais, às regulações de mercado e ao interesse de sócios minoritários da
estatal, o que é positivo. A ver a resposta do presidente. Deveríamos, no
entanto, estar discutindo uma agenda progressista para o País, e não os
próximos passos do governante, se irá recuar ou dobrar a aposta.
Com o desastre, Pandora fecha a caixa, onde fica guardada a esperança.
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