O Estado de S. Paulo
Após recuo nos ataques ao STF e às eleições, Bolsonaro combate passaporte de vacina
Na “declaração à Nação”, o presidente Jair
Bolsonaro recuou dos ataques ao ministro do STF Alexandre de Moraes. Em entrevista
à Veja, ele recuou também dos xingamentos contra o presidente do TSE, Luís
Roberto Barroso, do discurso golpista e das ameaças às eleições e às urnas
eletrônicas. A guerra agora é outra: desmoralizar a Coronavac, massificar que
as vacinas estão “em teste” e combater o “passaporte da vacinação”.
As pesquisas dispararam a luz amarela no QG, não do Exército, mas do bolsonarismo e a coisa só piorou depois do desastre de cabo a rabo da ida de Bolsonaro e sua comitiva inflada a Nova York. Daí manter a linha dos recuos, um a um, mas dobrando a aposta nos erros na pandemia e centrando fogo no “passaporte”.
A lista de novas contaminações no ambiente
bolsonarista é caprichada, justamente quando o número de imunizados sobe, o de
mortes cai e a variante Delta é uma incógnita: deputado Eduardo Bolsonaro, um
diplomata da viagem a NY e três ministros, Marcelo Queiroga, da Saúde, Tereza
Cristina, Agricultura, e Bruno Bianco, Advocacia Geral da União.
Mas, sem ter como sustentar os delírios de
golpe, manter suas guerras pessoais, e o que apresentar na economia e no
social, só restou ao candidato Bolsonaro insistir no seu maior erro: o combate
ao combate à pandemia. E le e sua tropa pegam em armas contra o passaporte,
exigido no Brasil e no mundo em eventos e estabelecimentos. Um manda, todos
(eles) obedecem.
Tossindo, Eduardo Bolsonaro disse que a
vacina está em teste, o passaporte é um “absurdo” e comparou com as Testemunhas
de Jeová, que ganharam na Justiça contra transfusão de sangue. Naquele caso,
porém, tratava-se de um direito individual: toma transfusão quem quer, quem
prefere adoecer e morrer, é problema seu. No da vacina, trata-se de um direito
coletivo, todos têm de apresentar o comprovante para proteger os demais de
contaminações e mortes.
Para Mário Frias, secretário da combalida
Cultura, a exigência é “abominável”,
“um teatrinho autoritário sanitarista”, e
ele não vai admitir a exigência de atestado em museus e teatros vinculados a
ele, “ponto final”. E os clubes Naval e Militar, do Rio, entraram com liminar
contra a comprovação de vacinas em suas dependências.
O que essa gente tem contra máscaras,
vacinas e atestado de imunização? Para o deputado, o secretário e os militares
de pijama, a questão não é de saúde, medicina, ciência, estatística, vida e
morte, é ideológica, a favor do “mito” e porque são coisas de comunista. Até os
EUA adotam o passaporte, esse que é “absurdo”, “abominável”, “teatrinho
autoritário”. Viraram comunistas!
Obrigado a comer pizza na rua em Nova York,
Bolsonaro abriu a Assembleia Geral da ONU como único presidente do G20 não
vacinado, condenou o passaporte de vacina, o isolamento social e insistiu no
“kit Covid”. “Não entendemos por que muitos países se colocaram contra o
tratamento inicial”, disse, referindo-se a EUA, França, Alemanha, Inglaterra,
Japão,
Chile, Austrália, o mundo civilizado. Como
o soldado da piada, ele se sente o único certo marchando com o pé errado.
E por que Michele Bolsonaro se vacinou em
NY, não no SUS e três a quatro meses antes? Bem... Se o general de quatro estrelas
Luiz Eduardo Ramos se imunizou “escondido”, a mulher do presidente deve ter
tido ainda mais motivos para adiar a vacina.
O relatório final da CPI da Covid começou e termina com o foco no negacionismo macabro do presidente, baseado em fake news e espalhado nas redes pelo Gabinete do Ódio (GDO, nas mensagens entre eles), com financiamento até de empresários que perderam suas mães para a Covid. Inacreditável. Quantos milhares poderiam ter sido salvos sem isso?
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