De saída do partido, ex-prefeito critica guinada feita por ACM Neto
Thiago Prado / O Globo, 25/09/2021
RIO — Com as malas prontas para sair do DEM,
o ex-prefeito e vereador Cesar Maia avalia que a fusão com o PSL é praticamente
certa, e que o novo partido deverá marcar posição à direita do espectro
ideológico. A guinada, comandada por ACM Neto, presidente nacional da sigla,
foi marcada pelo racha devido a divergências na escolha do sucessor de Rodrigo
Maia na Câmara dos Deputados, que acabou expulso do partido em junho. Diante do
cenário que se desenha para a eleição presidencial de 2022, Maia ainda especula
desistência de Bolsonaro e enfraquecimento de Lula.
De zero a dez, qual a chance
da fusão entre DEM e PSL realmente se concretizar nos próximos meses?
Sete. Temos que aguardar os desdobramentos,
especialmente nos estados. As informações que tenho recebido é que a escolha
dos presidentes dos diretórios estaduais será confusa. Veja o caso do Rio. Um
acordo de ACM Neto com o pastor Silas Malafaia levou o deputado Sóstenes
Cavalcante à presidência do DEM no Rio. Mas, se houver mesmo a fusão, o
presidente será o Waguinho, prefeito de Belfort Roxo pelo PSL. Em São Paulo,
difícil saber como vai se resolver. Esse processo de fusão vai demorar no
mínimo 90 dias.
A união dos dois partidos é
boa para a centro-direita brasileira?
Pelo que tenho acompanhado, a fusão formará um partido de direita e não de centro-direita. O DEM estava indo por um caminho de centro e optou por migrar para a direita. É uma decisão com foco apenas nas eleições de alguns governadores e deputados.
O senhor acha que ACM Neto
foi desleal com seu filho Rodrigo Maia em fevereiro na questão da liberação da
bancada do DEM para apoiar Arthur Lira na disputa pela presidência da Câmara
com Baleia Rossi?
Não tenho como avaliar. Mas os fatos
posteriores mostram que havia uma pressão para empurrar o DEM para direita.
Rodrigo já ocupava explicitamente o campo do centro.
O senhor sairá do DEM assim
como Rodrigo?
Sair do partido sem fusão exigiria uma
solução jurídica com advogados de um lado e outro. Com fusão não haverá
complexidade. Bastará uma escolha.
A relação ruim de Gilberto
Kassab com Rodrigo Maia não torna difícil a ida de vocês dois para o PSD,
movimento feito pelo prefeito e aliado Eduardo Paes?
São dois profissionais e sabem bem que não
estarem longe é bom para os dois.
Como o senhor acha que
Bolsonaro chegará para a eleição de 2022?
Na balança de probabilidades, o mais
provável é desistir da candidatura sem decepcionar seu time por ficar fora do
segundo turno. E desenhará uma desculpa para seus aficionados : tipo, “assim
não dá para governar”. Ele já vem repetindo esse discurso. Sem Bolsonaro, Lula
perderá o sparring preferencial e começará a perder musculatura. O quanto
perderá depende da qualidade política das alternativas e dos discursos
propositivos oferecidos. Não seria surpresa se a eleição de 2022 ocorresse em
torno de outros dois nomes excluindo Lula e Bolsonaro. Em junho de 1994, Lula
estava eleito. O Plano Real em julho desmanchou seu favoritismo. Fernando
Collor só surgiu na pesquisa para valer também em junho. Ambos os casos no ano
da eleição. Falta muito ainda.
Como avalia os outros nomes
cogitados para a Presidência até o momento?
Na disputa do PSDB entre João Doria e
Eduardo Leite, não vejo como São Paulo deixará de disputar a cabeça. Basta ver
toda a história da República. Há também que se aguardar a decisão de Rodrigo
Pacheco e esperar ele esquentar nas pesquisas. A opção por Minas Gerais é
inteligente. Abre um caminho. Trata-se do segundo colégio eleitoral do país.
Pacheco deixará o DEM?
Acredito que sim. Segundo se diz, a
conversa com o PSD avançou muito. E, como senador, ele pode mudar de partido
quando quiser.
E o seu correligionário Luiz
Henrique Mandetta, alguma chance de ser candidato ou vice em outra chapa?
Se vier a fusão da forma anunciada, não
vejo espaço para ele. Esse novo partido será criado para eleger deputados apenas.
O que tem achado da
estratégia de Ciro Gomes de bater tanto em Lula quanto em Bolsonaro?
É uma escolha apressada imaginando que o
desgaste de Lula em função do Lava-jato abriria um vetor para ele. Acho uma
estratégia equivocada.
Foi essa, aliás, a estratégia
do MBL nas manifestações do dia 12 de setembro, que levou um público muito
baixo para as ruas. Está errado ser contra Lula e Bolsonaro ao mesmo tempo?
Certamente errado. Mas se deve ir bem além
do anti-Bolsonaro. A crise brasileira múltipla exige a escolha de uns três ou
quatro temas propositivos. Emprego entre eles. O desemprego entre os jovens
está em 30%.
Não acha que a economia
melhora um pouco ano que vem e ajuda a melhorar a popularidade de Bolsonaro?
É claro que não. Dois exemplos: o minério
de ferro caiu 47% de julho para cá e o agronegócio ficará sem parceiro
“primário”. E mesmo que façam um novo bolsa-família turbinado, programas de
transferência de renda precisam estar lastreados em confiança e esperança. As
respostas relativas a estes dois vetores nas pesquisas recentes de DataFolha e
Ipec mostram que estamos longe disso.
O senhor descarta o
impeachment?
Sim, pela estrutura de comando e minoria na
Câmara. A proximidade das eleições não ajudará a formar maioria de dois terços.
Ele ainda se mantém com mais de 20% de avaliação de ótimo e bom devido a força
do seu cargo. Mas, quando vier a aproximação da perda da Presidência, esse
quadro muda.
Não teme que cenas como a
tentativa de invasão do Capitólio, nos Estados Unidos, se repitam em 2022 no
Brasil?
A situação política é muito diferente.
Donald Trump contava com pouco menos da metade dos eleitores. Bolsonaro hoje
conta com um quinto da população.
Como analisa a disputa pelo
governo de São Paulo?
Só quando Rodrigo Garcia for percebido como
governador é que se conhecerá o quadro eleitoral efetivo.
Acredita em uma candidatura
Geraldo Alckmin forte ?
Em geral o governador de São Paulo conta
com forte apoio no Interior. Alckmin fora do governo terá uma tarefa árdua para
compensar a região metropolitana.
Guilherme Boulos ou Fernando
Haddad, quem é o nome mais competitivo para a esquerda?
Tende a ser o Haddad colado no Lula e
amaciando o discurso para a classe média e o empresariado.
Como analisa a disputa para o
governo do Rio?
Uma eleição no Rio sempre tem um quadro
múltiplo. Acho muito pouco ainda apenas os três nomes colocados até agora
(Cláudio Castro, Marcelo Freixo e Rodrigo Neves). Imagino que Freixo vá até o
fim e fará uma campanha olhando a candidatura a prefeito dois anos depois.
Castro fez uma montagem multipartidária. Há um risco grande dessas alianças se
desintegrarem se as pesquisas apontarem para um quadro adverso.
Acredita em fatos novos como
a candidatura do vice-presidente Hamilton Mourão ou do prefeito Eduardo Paes?
Mais provável que Mourão termine como
candidato a deputado federal evitando riscos maiores. E Se Paes estivesse
pensando nisso teria escolhido um vice próximo e com lastro. Em 2024 fará isso
e irá para governador depois.
O senhor pode se aventurar a
ser candidato a algo em 2022?
Estou feliz como vereador com três mandatos.
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