quinta-feira, 3 de julho de 2025

Estratégia tresloucada - William Waack

O Estado de S. Paulo

É óbvio que o PT sem Lula corre o sério risco de resvalar para o ocaso. As últimas decisões políticas do chefão estão acelerando esse processo.

A causa principal é a perda de leitura da realidade por parte do próprio Lula. Leia-se mudanças sociais no País, alteração das relações de força entre os poderes e o enfraquecimento das capacidades físicas e intelectuais do líder.

Tem remotas possibilidades de sucesso as mais recentes decisões “estratégicas” para ganhar as eleições de 2026 e reverter poderes do Congresso. De novo, pelo óbvio: não reúne a massa crítica política necessária nem para um nem para o outro.

Lula se encontra hoje vítima da tática “boa constrictor” (o nome científico da jiboia) do Centrão, e sua ida ao STF para anular o decreto legislativo que anulou o decreto executivo não vai folgar o aperto dos anéis dessa gulosa serpente. Ao contrário, qualquer que seja a decisão do Supremo.

Acelerou o emprego de uma tática política eleitoral que os velhos revolucionários chamavam de “salto adiante”. Repaginou a velhíssima “luta de classes” superada há muito por enormes transformações sociais, tecnológicas, culturais e econômicas – que ele e seu partido não conseguiram entender.

Partiu para o embate quando sua popularidade é no mínimo sofrível, seu governo é mal avaliado, a diferença que lhe deu a vitória em 2022 diminuiu em vez de aumentar, a capacidade de mobilização tradicional (sindicatos e “movimentos sociais”) evaporou, as ruas, quando ocupadas, o são pelos adversários.

Como símbolo, Lula padece de óbvio desgaste de imagem – raivoso, reclamão, vociferante, repetindo os mesmos bordões e incapaz de exibir a malícia e o humor de antigamente. Quando tenta, parece patético. E deixando transparecer a tutela de uma primeira dama que é exatamente o retrato da classe média arrivista que o PT afirma detestar.

Lula julga ter dado a volta por cima em relação à Lava Jato, condenação e prisão. Essa não é a percepção de vastíssima camada do eleitorado, incluindo quem votou nele em 2022 para se ver livre de Bolsonaro.

Corrupção, má gestão das estatais, o apoio a ditadores amigos e o cansaço generalizado com um governo gastador que só pensa em arrecadar tem enorme peso político. Chama-se resistência social a Lula e ao PT.

Há personagens políticos que desembarcaram e preservaram ainda em vida certa graça e uma forte aura pessoal, como Mandela ou Pepe Mujica. Outros não souberam fazê-lo, e causaram danos ao partido e à própria imagem, como Joe Biden.

Na velhice, Lula propaga ressentimentos, é vingativo e toma decisões estratégicas tresloucadas. Arrisca-se a ser lembrado assim.

 

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