sexta-feira, 1 de agosto de 2025

O que mais Trump pode aprontar? - Celso Ming

O Estado de S. Paulo

Há enorme desproporção entre o tamanho da ameaça “extraordinária” do Brasil aos Estados Unidos, que o presidente Trump diz que existe, e as providências por ele tomadas para garantir esse futuro em risco.

Nas justificativas expostas para o pacote tarifário, Trump afirma que é um revide às “políticas práticas e ações recentes do governo brasileiro que constituem ameaça incomum e extraordinária à segurança nacional, à política externa e à economia dos Estados Unidos”.

É quase como dizer que o Brasil prepara o lançamento de uma bomba sobre Washington. E, no entanto, por mais que se deplore, o tarifaço atenuado e o enquadramento do ministro do Supremo Alexandre de Moraes às sanções previstas na Lei Magnitsky, destinada a produzir a morte financeira de ditadores, terroristas e narcotraficantes, estão longe de eliminar as supostas insegurança e debilidade econômica dos domínios do Grande Khan.

Ninguém ainda espera demonstrações de lógica aristotélica dos textos divulgados pelo presidente Trump. Em carta anterior, ele afirmara que o tarifaço seria inevitável porque o Brasil mantém um enorme rombo nas suas relações comerciais com os Estados Unidos, o que é uma falsidade estatística. No entanto, convém ter claro que as premissas ao pacote assinado por Trump, ainda que capengas, podem estar preparando novas porretadas sobre o Brasil.

A provável condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo, prevista para final de agosto ou começo de setembro, pode ser usada como pretexto para novas represálias. O Brasil passou a ser alvo preferencial da maior potência econômica e política do mundo.

Essa ameaça não pode levar o governo Lula a provocar a jararaca com o pé descalço, como tem feito – por exemplo, quando enaltece a ditadura iraniana ou quando tenta lançar o Brics contra o dólar. Nem pode manter o País paralisado, como se nada pudesse ser feito.

Negociar o que pode ser negociado é um caminho necessário. Mas é pouco, porque só é eficaz quando reduz as perdas das empresas dos Estados Unidos. Também não basta assegurar algum nível de união nacional contra o perigo comum. É preciso preparar o Brasil para turbulências.

Isso implica fortalecer a economia com providências fiscais destinadas a derrubar os juros e a conter a expansão da dívida pública, o maior flanco vulnerável da economia nacional. Para isso, não é suficiente aumentar impostos; é preciso reduzir as despesas públicas, tarefa que ficou mais fácil quando o desemprego caiu a 5,8% da força de trabalho, o nível mais baixo desde 2012.

Além disso, é preciso diversificar os mercados, negociar novos acordos comerciais, abrir a economia e eliminar o excesso de protecionismo que tolhe o setor produtivo local.

Até há algumas semanas, o governo Lula entrou no modo eleições e nada, além disso, ocupou sua cabeça. O tarifaço do Trump e tudo o que veio junto passou a exigir mudanças nessa pauta política.

 

Nenhum comentário: