O Globo
Empresas evitam o país ou certas regiões, não
apenas pelos gastos com segurança, mas também para não expor seus funcionários
Antigamente era o “dinheiro do ladrão”. Hoje,
o “celular do assaltante”. Esse antigamente é de décadas atrás. Os mais velhos
diziam que não se devia sair de casa sem algumas notas no bolso. No caso de
topar com algum meliante, você teria aquela reserva para entregar e evitar um
desfecho mais desagradável do episódio. Hoje não se anda mais com dinheiro. Nem
os assaltantes querem dinheiro, querem um celular, de preferência desbloqueado.
Como se carrega tudo no celular, de conversas íntimas a contas bancárias, incluindo a carteira de investimentos, o roubo do aparelho tem um custo econômico que pode ser desastroso. Além dos danos morais e psicológicos. Vai daí, muitas pessoas saem com um celular mais simples, apenas com os aplicativos de comunicação e localização. Os aplicativos financeiros ficam noutro aparelho, bem guardado em casa.
Não foi uma vez que ouvi essa história. Ao
contrário, tem aparecido com frequência nos diversos ambientes — no trabalho,
no clube, nas reuniões sociais. Está aí, nesse, digamos, “microcomportamento”,
o custo da sensação de insegurança. As pesquisas confirmam. Segundo apurado
pela Quaest, a violência, ou a questão da segurança, é a maior preocupação dos
brasileiros. Foram 38% os entrevistados que responderam assim. A economia? É a
maior preocupação apenas para 15%.
Claro que essas avaliações mudam conforme os
acontecimentos. A última pesquisa, conhecida na semana passada, seguiu a
repercussão da megaoperação no Rio, nas comunidades do Alemão e da Penha. De
todo modo, ampla maioria manifestou apoio à ação policial que deixou 121
mortos, mostrando que a população está cansada da percepção de insegurança.
Essa situação traz custos evidentes tanto
para as famílias quanto para as empresas: contratação de seguranças com seus
carros e motos, instalação de portões eletrônicos, câmeras de vigilância,
veículos blindados. E o segundo celular. São os gastos operacionais, que
incluem as despesas com seguro. Mesmo com tudo isso, muitos têm receio de
circular pela cidade, evitam trabalhar em empresas estabelecidas em locais
considerados perigosos.
Os economistas falam dos “custos ocultos” da
criminalidade, especialmente quando o crime organizado atinge as proporções
verificadas no Brasil. Empresas que evitam o país ou determinadas regiões, não
apenas pelos gastos com segurança, mas também para não expor seus funcionários
a um ambiente hostil. Não raro, são os profissionais de alta qualificação que
evitam ou deixam o país. Tudo somado, isso significa menos investimentos
privados, atrasando o desenvolvimento econômico.
Há também o gasto público não apenas com as
forças policiais, os sistemas de segurança e os presídios. Podem-se incluir
aqui os custos com saúde — ou com as vítimas de crimes. Outro custo está na
corrupção do setor público. O crime organizado não vive sem comprar o silêncio
e a cumplicidade de servidores, autoridades e políticos. E a desigualdade. A
criminalidade atinge mais duramente a população pobre, exposta às quadrilhas
nos locais onde vivem. Perdem-se jovens para o crime.
E, por falar em políticos, o Congresso passou
a semana discutindo uma nova lei antifacção. Trata-se de um cacoete: diante de
qualquer acontecimento dramático, deputados e senadores aprovam leis aumentando
penas e definindo novos tipos de crime. É claro que se precisa de uma
legislação dura. Mas se precisa mais de um sistema policial eficiente,
integrado com um Judiciário que tenha um regime especial mais rápido para
julgar os casos vinculados às organizações criminosas.
Essa é mais uma questão técnica que política.
Há exemplos de países eficientes no combate ao crime organizado, preservando os
valores da democracia. Não precisa inventar nada, muito menos politizar. Basta
seguir os casos bem-sucedidos. A Itália tem o que ensinar no combate às máfias.
Quanto é o custo do crime organizado para o
Brasil? Difícil calcular, variam os métodos, mas deve estar perto do que se
gasta com saúde e educação. Sem resultados.

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