O Estado de S. Paulo
A política de imigração de Trump sabota a lógica econômica. A fatura virá em breve
O impacto das deportações em massa de imigrantes, de um patrulhamento mais duro nas fronteiras e das restrições para permanência nos Estados Unidos até a quem tem autorização temporária de residência deverá afetar o PIB americano de 2025 numa magnitude maior do que antes imaginado. A adoção indiscriminada de tarifas de importação vem dominando as manchetes da imprensa internacional, mas a cruzada do presidente Donald Trump contra imigrantes já está prejudicando o mercado de trabalho.
Desde janeiro, o número de estrangeiros na
força de trabalho diminuiu em 735 mil, conforme estimativas da National
Foundation for American Policy, um centro de pesquisa especializado em
imigração e comércio internacional. Já a consultoria Capital Economics calcula
que a participação de estrangeiros na força de trabalho americana caiu de
19,8%, em março deste ano, para 19,1% em junho, equivalendo a uma redução de
mais de um milhão de pessoas.
O que vem impressionando é o ritmo de
detenções e deportações pelo Serviço de Imigração e Alfândega (o temido ICE, na
sua sigla em inglês), cujo orçamento foi elevado para US$ 170 bilhões (R$ 950
bilhões). O número de detenções feitas por agentes da ICE subiu de 15 mil, na
média mensal de 2024, para 40 mil por mês nos primeiros meses deste ano até
junho. Com o orçamento turbinado, esse número deve disparar.
Quem soou o último alerta sobre o impacto
negativo dessa política foram os economistas do Federal Reserve de Dallas. Um
estudo feito por eles, divulgado na semana passada, mostrou que a redução
drástica de imigrantes nas fronteiras e o aumento das deportações de
trabalhadores sem vistos ou autorizações podem subtrair 0,8 ponto porcentual do
PIB americano já de 2025. Esse é o cenário-base. Mas, no cenário mais
pessimista – de deportação em massa atingindo 1 milhão de imigrantes por ano
até o fim de 2027 –, o impacto no PIB não seria tão maior neste ano (-0,9
ponto), porém bastante significativo no PIB de 2027 (-1,5 ponto).
Não à toa, os economistas do banco JPMorgan dizem considerar as políticas de imigração de Trump como o risco de baixa “mais subestimado” ao crescimento dos EUA. O cenário do banco era de que o fluxo de imigração minguaria azero neste ano, mas sem contar com o impacto das deportações. Uma reversão dos programas existentes no governo Biden pode levar 1,8 milhão de imigrantes a perder o “status” legal e 1,1 milhão a perder o direito a trabalhar nos EUA. A política de imigração de Trumpsa bota alógica econômica. A fatura virá em breve.
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