Eleições do PSDB, marcadas para maio, reproduzirão disputas recentes entre mineiros
e paulistas. Nomes mais fortes para o posto são os de Rodrigo de Castro e
Alberto Goldmann
Paulo de Tarso Lyra
A eleição do novo presidente do PSDB, marcada para maio do ano que vem, antecipará
a batalha que se arrastará até as eleições presidenciais de 2014: a disputa de
mineiros e paulistas pela hegemonia no principal partido de oposição ao governo
federal. Virtual candidato à Presidência daqui a dois anos, o senador Aécio
Neves (PSDB-MG) defende a renovação dos quadros e das ideias. Tucanos
paulistas, sobretudo os ligados ao candidato derrotado à prefeitura paulistana
José Serra, acham que "o novo pelo novo" é excludente, pois despreza
toda a experiência e bagagem de antigos dirigentes.
Por um sinal de respeito ao atual presidente do partido, Sérgio Guerra, os
nomes dos futuros candidatos ainda não são discutidos abertamente. Dois dias
antes do primeiro turno das eleições, Guerra foi internado com um quadro de
infecção renal e desidratação. Na semana retrasada, fez uma cirurgia delicada
para a retirada de um tumor próximo à nuca. "Ele está bem, consciente, e
participará ativamente das discussões do partido", declarou o senador
Aécio Neves.
Sérgio Guerra tem um papel fundamental neste momento de retomada do
crescimento do partido. Segundo tucanos de todas as tendências, ele soube, com
habilidade e leveza, conduzir o PSDB equilibrando as divergências entre os
paulistas e os demais integrantes da legenda. "O Sérgio foi essencial nessa
travessia", admitiu o deputado e um dos coordenadores da campanha de
Serra, Walter Feldmann (SP). Pelo estatuto do partido, ele não pode concorrer a
mais um mandato.
Nas rodas tucanas, no entanto, os nomes dos sucessores começam a aparecer,
ainda que discretamente. Pelos lados de Minas e dos aliados de Aécio, um nome
que surge como alternativa é o do atual secretário-geral do partido, Rodrigo de
Castro (MG). Muito próximo ao senador mineiro, ele já cuida da burocracia
partidária e viajou bastante durante as eleições municipais para conhecer a
realidade do partido nos diversos estados.
Rodrigo e Aécio comungam da opinião de que o partido saiu vitorioso ao
crescer no Nordeste e eleger prefeitos nas duas principais capitais do Norte —
Belém, com Zenaldo Coutinho, e Manaus, com Arthur Virgílio. Além disso, o PSDB
é vice de ACM Neto (DEM) em Salvador, conquistando um palanque presidencial na
capital baiana que não teve nos últimos anos. "Foram vitórias essenciais
para consolidar o partido. Precisamos de pessoas novas e ideias novas nesse
debate", defendeu Aécio.
Mesmo admitindo que a perda da prefeitura de São Paulo para o PT foi doída,
Aécio lembrou que o PSDB já não comandava a prefeitura, ocupada há quatro anos
por Gilberto Kassab (PSD). "No plano federal, o PSD não está conosco, está
com a presidente Dilma". Até mesmo aliados convictos de Serra reconhecem
isso. "Kassab foi muito correto conosco ao longo do primeiro mandato,
mantendo nossas políticas. Mas o período de 2008 a 2012 foi totalmente
comandado pelo atual prefeito", completou o deputado Walter Feldmann (SP).
A reação paulista
Os serristas não querem Aécio tão soberano na legenda. Na semana anterior ao
segundo turno das eleições, especulou-se que o próprio Serra poderia se
candidatar à presidência do partido, caso se confirmasse a vitória do petista
Fernando Haddad. Na primeira entrevista após a derrota, Serra estava abatido,
mas não deu sinais de que pretenda aposentar as chuteiras. "Saio dessa
disputa com energia renovada e novas ideias na cabeça", declarou.
Para o grupo, no entanto, reconduzir Serra à presidência é utopia. Por isso,
trabalham com a manutenção do vice-presidente Alberto Goldmann. A exemplo de
Rodrigo de Castro, ele também integra a máquina partidária, além de ser um
quadro experiente e ter sido vice-governador de São Paulo entre 2006 e 2010.
"O Goldmann conhece o partido, ele substitui o Sérgio Guerra toda vez que
o presidente se ausenta. Poderia permanecer no cargo", sugeriu Feldmann.
Os serristas temem o discurso do novo no partido. Serra, por exemplo, já tem
70 anos. "O PSDB deve ter um discurso inclusivo. Podemos até discutir o
momento em que lançamos um candidato experiente e quando lançamos um novo nome.
Mas simplesmente menosprezar os mais antigos, os quadros históricos, beira o preconceito",
reclamou Feldmann. O próprio Serra se manifestou. "Comprar o discurso do
novo pelo novo é comprar o discurso do PT", comparou.
Um terceiro nome que se ventila é do atual secretário de Energia de São
Paulo, José Aníbal. Ele já presidiu a legenda, mas tem atritos com Serra e
Goldmann. "Nem pensar. Ele cruzou os braços em São Paulo e contribuiu para
a derrota de nossa legenda", reclamou um desafeto do secretário estadual.
Fonte: Correio Braziliense
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