Há dez anos José Serra disputava as eleições presidenciais. De lá para cá
participou de todos os pleitos: Prefeitura de São Paulo em 2004, do qual saiu
vencedor; em 2006 concorreu ao governo do Estado e ganhou com facilidade no
primeiro turno. Não tentou a reeleição de governador, mas encarou em 2010 o
desafio de nova disputa pela Presidência. Em 2012 tergiversou, disse não ser
candidato à Prefeitura, mas as pesquisas, que o colocavam em primeiro lugar
disparado, o animaram a tentar novamente ser prefeito.
Trata-se de demonstração precisa de desgaste de material: o nome bem
conhecido, que surge mais facilmente à mente do eleitor meses antes das
eleições, vai sofrendo rejeição ao longo do processo eleitoral. Mais do mesmo.
Lula, ao apresentar Fernando Haddad como candidato a prefeito no Programa do
Ratinho, antes do período eleitoral, disse: "O povo votará no novo porque
a população de São Paulo quer mudança". Haddad timbrou sua campanha no
tema "o homem novo para um tempo novo".
Agora Lula antecipa a indicação de candidato a governador de São Paulo,
mencionando que o pleiteante ao Palácio dos Bandeirantes pelo PT deve ser o
ministro da Saúde, Alexandre Padilha, estreante em eleições.
Seria a apresentação de uma novidade eleitoral a fórmula de sucesso válido para
todos os quadrantes? O que vale para São Paulo vale para a Grande São Paulo? O
que constitui um mote forte para São Paulo pode não ser para uma cidade
vizinha. E Lula sabe disso, pois em Diadema, município ao lado da capital, saiu
em defesa da reeleição de seu candidato, Mario Reali, derrotado nas urnas,
dizendo o inverso do que falou sobre Haddad e Serra: "O importante é que o
povo não entre numa aventura. Em 1989, o novo era o Collor e vocês sabem o que
aconteceu neste país. Não podemos colocar na prefeitura alguém que não
administrou nem a própria cozinha".
Nem se pensa em criticar Lula por sua manifesta "virtude" da
incoerência, que pratica com tanta proficiência e desenvoltura. É um caso
perdido.
O que importa analisar é se o novo é uma exigência atual da sociedade e se
Lula é mesmo um grande eleitor. As urnas demonstram que a receita do novo e o
apoio de Lula não constituem, na verdade, uma solução universal, garantidora de
vitória. Pois se valeu para São Paulo, não serviu para Belo Horizonte, onde o
prefeito foi reeleito contra todo o esforço de Lula e Dilma, que se empenharam
a fundo em favor de Patrus Ananias. Marcio Lacerda representava nas eleições o
velho e o antagonismo a Lula, mas venceu no primeiro turno.
Já no Recife, o PT, que governa a cidade há 12 anos, se viu derrotado por um
candidato novo, Geraldo Julio, eleito no primeiro turno. Humberto Costa, o
candidato do PT imposto por Lula, representava o velho, como conhecido político
pernambucano, antes vereador, deputado estadual, federal, secretário de Estado,
ministro e senador. Figurou só em terceiro lugar, atrás do candidato do PSDB.
O candidato a prefeito de Salvador também sustentado por Lula e Dilma, o
petista Nelson Pelegrino, deputado estadual e federal, foi vencido por político
de franca oposição ao lulismo, o neto de ACM, o ACM Neto, uma mistura do velho
e do novo, revivendo a imagem do avô, legendário coronel da política baiana. O
PT perdeu também em Fortaleza, sofrendo, portanto, derrota nas principais
capitais do Nordeste. No Norte foi vencido em Manaus e Belém.
Em Campinas, Jonas Donizette, antigo vereador, deputado estadual e federal,
ganhou a eleição de pretendente novo, apoiado por Lula e Dilma, o ex-presidente
do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Mário Pochmann.
Como se vê, as eleições municipais têm sua lógica própria. Nem Lula nem o
novo são os fatores determinantes do sucesso ou da derrota. As eleições
municipais seguem preferências muito específicas dos problemas vividos pelas
cidades. Não se conseguiu nacionalizar as eleições municipais. O mensalão e o
apoio de lideranças nacionais tiveram sua influência, mas não foram
determinantes.
A condenação do núcleo político do PT, em vista de sofisticado esquema de
manutenção do poder por meio de corrupção, apesar de colar essa marca no
partido, pouco respingou na opção municipal: em geral não se deixou de votar em
Haddad por ter a cúpula do PT sido condenada nem se votou por essa razão em
Serra. Tal não significa desinteresse pelo mensalão, mas sensível compreensão de
que o voto hoje em candidato a prefeito não condena nem absolve o passado de
terceiros. Será, contudo, diverso no pleito para presidente.
A vitória de Haddad não constitui a absolvição do PT nem a condenação do
Supremo Tribunal Federal, e em especial do ministro relator Joaquim Barbosa,
visto como fidedigno portador da justiça por muitos eleitores do petista.
Resumindo, em muitas cidades o novo foi vencedor, bem como Lula e Dilma
foram os ganhadores. Mas, ao mesmo tempo, o velho venceu e Lula e Dilma foram derrotados
em colégios eleitorais importantes. É preciso, portanto, examinar cada
município em suas condições particulares e em face das figuras dos
concorrentes: em São Paulo, foi Haddad que ganhou ou Serra que perdeu, visto
seu elevado índice de rejeição?
O processo do mensalão deve perdurar como exemplo. Não cabe condenar alguém
tão só para intimidar os demais membros da sociedade, mas a condenação justa de
fatos comprometedores do cerne das instituições democráticas pode ajudar a que
a classe política venha a exercer corretamente suas funções.
Em suma, a condenação no mensalão não se refletiu nas eleições municipais,
nem se pode considerar Lula, Aécio Neves ou Eduardo Campos como grandes
eleitores, pois cada município apresentou razões próprias para suas opções
conforme características específicas.
Fonte: O Estado de S. Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário