SÃO PAULO E BRASÍLIA - A revista "Veja" desta semana afirma que o
operador do mensalão, Marcos Valério, acusou a cúpula do PT de pedir que ele
desse dinheiro para calar o empresário Ronan Maria Pinto, que ameaçava envolver
o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na morte, em 2002, do então prefeito
de Santo André, Celso Daniel (PT).
De acordo com a publicação, Valério, já condenado pelo Supremo Tribunal
federal (STF) a 40 anos de prisão, relatou que nos primeiros meses de 2003, no
começo do governo Lula, foi convocado pelo então secretário-geral do PT, Silvio
Pereira, para uma conversa com Ronan, que é alvo de ações do Ministério Público
por participação em suposto esquema de corrupção na prefeitura de Santo André.
O empresário, dono de empresas de ônibus e coleta de lixo, ameaçaria
envolver Lula e o então chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, no
caso. Segundo a revista, ao receber a missão de levantar dinheiro para
apaziguar Ronan, Valério teria reagido dizendo: "Eles achavam que (o pagamento)
ia ser através de mim e eu falei assim: Nisso aí eu não meto, não""
A revista não traz provas de que o encontro entre o operador do mensalão e o
empresário realmente existiu. Procurado, Ronan informou, por meio de sua
assessoria de imprensa, que a história é "absurda" e que jamais se
encontrou pessoalmente com Valério. O advogado de Silvio Pereira, Gustavo
Badaro, disse que seu cliente nega o episódio.
- Ele (Silvio Pereira) disse que isso nunca existiu. É uma fantasia -
afirmou o advogado.
A assessoria do Instituto Lula informou que não comentaria acusações não
confirmadas.
Há sete semanas, "Veja" também havia publicado uma reportagem
contando que Valério relatou a amigos e parentes que Lula seria o chefe do
mensalão e tinha conhecimento da existência do esquema. Na semanada passada, o
diretor de redação da revista, Eurípedes Alcântara, afirmou ao portal
"Comunique-se" que a publicação possui uma gravação com a acusação
feita pela operador do mensalão, mas que considerava desnecessário divulgá-la.
O prefeito Celso Daniel foi encontrado morto em janeiro de 2002, dois dias
depois de ser sequestrado. De acordo com a investigação do Ministério Público,
o crime teria sido planejado pelo empresário Sergio Gomes da Silva, o Sombra,
que estaria contrariado porque Daniel pretendia por fim ao suposto esquema de
corrupção.
A declaração de Valério à "Veja" provocou reações no PT e na
oposição. Os líderes do DEM e do PSDB no Senado, mesmo considerando as
acusações graves, foram cautelosos e disseram que vão aguardar a atuação da
Procuradoria-Geral da República na investigação.
- São assuntos gravíssimos, que carecem de confirmação. O mais importante é
o depoimento dado por ele ao Roberto Gurgel - defendeu o líder do DEM, José
Agripino Maia (RN).
Já o líder do PT na Câmara, deputado Jilmar Tatto (SP), disse que Valério
não tem "a menor credibilidade".
- Marcos Valério é uma pessoa condenada, está na fase de desespero, porque
vai para a cadeia. O PT pagou um alto preço por ter se relacionado com esse
senhor. Marcos Valério não merece e não tem o mínimo de credibilidade. Ele teve
a oportunidade de falar no processo, mas não falou - disse Tatto.
Já o ministro Gilberto Carvalho não quis se manifestar, limitando a enviar,
por meio da assessoria, a nota que já havia enviado à revista, na qual nega as
acusações: "O ministro Gilberto Carvalho nunca teve conhecimento de
qualquer ameaça ou chantagem feita pelo sr. Ronan Maria Pinto, diretamente ou
por terceiros. O ministro nunca teve qualquer contato com o sr. Marcos Valério,
nem pessoalmente, nem por email, telefone ou qualquer outro meio. O ministro
desconhece absolutamente a suposta denúncia apresentada pela revista
Veja", diz a nota.
No Palácio do Planalto, a ordem era evitar comentários oficiais, pois isso
só acabaria dando força a algo que não consideram verdadeiro.
Fonte: O Globo
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