Raphael Di Cunto e Thiago Resende - Valor Econômico
BRASÍLIA - Se provocam desgaste perante a sociedade e os eleitores, as denúncias de que teria recebido US$ 5 milhões em propina da Petrobras devem afetar pouco a influência do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), sobre a Casa que comanda com mão de ferro, avaliam parlamentares da base e oposição ouvidos pelo Valor.
Além dos deputados que Cunha ajudou na campanha eleitoral ao intermediar doações de empresas, o pemedebista mantém sua força no plenário ao pautar projetos de interesses das bancadas temáticas (ruralista, evangélica e da bala). Com integrantes em vários partidos, estes grupos o apoiaram na eleição para a presidência da Câmara e tiveram as demandas atendidas nestes seis meses. Sem Cunha, temem que o governo volte a mandar na agenda.
Cunha também conta com a oposição nas pautas em que há desgaste do governo e do PT. Tucanos que analisavam o novo posicionamento em conversas no fim de semana dizem que a tendência é de uma aproximação maior com o pemedebista, mas isso dependerá do não surgimento de novas denúncias. "Fica difícil cobrar ética do PT e explicar para a população porque fazemos acordos com alguém investigado", diz um tucano.
O histórico recente mostra a estratégia do pemedebista quando está acuado: bater de volta e mudar o foco das atenções. Foi o que ocorreu em março, quando o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu a abertura de inquérito contra Cunha e outras 53 pessoas por suspeita de desvios na Petrobras.
No dia seguinte, Cunha pautou e a Câmara aprovou a proposta de emenda constitucional (PEC) da Bengala, que tirou da presidente Dilma Rousseff a possibilidade de indicar cinco ministros para o Supremo Tribunal Federal (STF). Na outra semana, recebeu desagravo público de praticamente todos os partidos em sessão na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras. Com uma intensa agenda, tirou o foco das denúncias e colocou na crise do governo.
A estratégia se repete agora. Um dia depois de acusado pelo lobista Júlio Camargo, da Toyo Setal, Cunha assinou a instalação das Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) dos fundos de pensão e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e prepara pauta de votações contra o governo, com a mudança na forma de correção do FGTS, a Lei das Estatais e as PECs da redução dos ministérios e do Orçamento impositivo das emendas coletivas.
Para o líder do DEM, Mendonça Filho (PE), o rompimento pode transformar crise política em crise institucional. "Ele fazia uma ou outra batalha eventual contra o governo. Agora será guerra constante", afirma. Com o recesso, o desagravo público foi menor, mas parlamentares de PMDB, PSB e até do PT manifestaram, em grupos dos deputados no WhatsApp, apoio à decisão de romper com o governo.
Ainda é incerto o peso que isso terá sobre a bancada do PMDB, já dividida desde a eleição presidencial, quando parte apoiou a eleição do senador Aécio Neves (PSDB-MG). "O que Cunha vem dizendo é fato. A aliança com o PT foi bem difícil de se construir no ano passado. Boa parte da bancada, não é a maioria, se considera de oposição. Outra parte fala que é independente", disse o vice-líder da sigla, Sérgio Souza (PR).
Para outro pemedebista, há espaço para a legenda sair do governo, mas não é uma coisa tão simples - teria que deixar ministérios, a articulação política e cargos de segundo e terceiro escalão, além de rifar o vice-presidente Michel Temer (PMDB).
Alguns, no entanto, avaliam que Cunha pode influenciar principalmente a ala que se declarava independente. Eles relatam que parte dos deputados do PMDB têm um "fascínio" pelo presidente da Câmara e buscam aproximação pelo poder que ele tem na Casa. "É muito forte a influência do Cunha na bancada. Muita gente já se declarava de oposição ao governo. A tendência é outra parte segui-lo", crê o deputado Manoel Júnior (PMDB-PE). A bancada pretende convocar em agosto uma reunião da direção nacional para deliberar sobre o tema.
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