- Valor Econômico
• Uma nova liderança começa a se formar e a melhor prova disto é a mudança de projeto de poder do PMDB
Iniciamos a segunda metade deste confuso ano de 2015 sob o signo de tempos mais claros, tanto na economia como na política. Apesar das incertezas que ainda cercam a evolução das investigações sobre a corrupção na Petrobras - e seus desdobramentos no mundo político - alguns clarões já aparecem no horizonte. E por esta razão, o número de analistas que começam a traçar cenários menos nebulosos para 2016 tem aumentado. Isto vale tanto para a política como para a economia.
Gostaria de chamar a atenção do leitor do Valor para um traço comum que acompanha estas previsões menos catastrofistas: elas são produzidas por pessoas de maior rodagem na estrada da vida, nesta muitas vezes complexa - mas deliciosa - sociedade que é a brasileira. Ou em outras palavras, os mais jovens, e com menos vida ativa nos eventos históricos do passado recente, têm encontrado muita dificuldade para entender o que vem ocorrendo no Brasil.
Esta dificuldade de separar os acontecimentos, que são apenas ruídos, dos fatos que nos conduzem ao futuro tem uma razão simples: o vácuo que estamos vivendo na política ocorreu apenas três vezes em nossa história republicana: no final da ditadura Vargas em 1945, no governo Figueiredo e, agora, no ocaso do chamado lulopetismo. Vamos por partes para explicar ao leitor como este analista enxerga o futuro, considerado como tal o pós-governo Dilma Rousseff.
Na economia fica cada vez mais claro que vivemos um período marcado pelo fim da bolha de consumo criada pelo boom de commodities e do real forte no período 2004/2012. E vivemos no Brasil um modelo clássico das mudanças na economia que ocorrem quando uma bolha de consumo é rompida por razões externas a ela. Fica hoje mais fácil acompanhar este fenômeno pois as lições que podemos tirar do que ocorreu nos Estados Unidos em 2008 são recentes e ricas.
Observamos a mesma queda vertiginosa da demanda privada sob o impacto das mudanças bruscas das expectativas dos consumidores e da reação violenta dos empresários. Esta queda no vácuo cria uma sensação de que o chamado fundo do poço nunca será atingido, auto-alimentando o recuo do investimento e do consumo. Como sempre acontece nestes momentos, a mídia na sua missão de informar os fatos do dia a dia, acaba reforçando a insegurança de todos. Este é o script tradicional de todas as bolhas e o Brasil de Dilma Rousseff não está inovando neste campo.
Coloquei anexo um gráfico do ocorrido nos Estados Unidos entre 2008 e 2010 com as vendas de automóveis, para servir como indicador ao leitor. Mas esse mesmo gráfico mostra o que acontece quando as causas primárias da criação desta bolha desaparecem, o pânico diminui de intensidade e as forças naturais das economias de mercado começam a funcionar novamente. Os números do mercado de automóveis americano mostram a fase de recuperação em V a partir de 2010. Vejam também que esta recuperação ocorreu em outros momentos de bolhas de consumo na história daquele país.
É o que deve acontecer no Brasil em algum momento na parte final de 2016, se a política econômica atual for mantida. E quais serão estas forças de mercado que vão criar as condições para uma recuperação na segunda metade de 2016? Redução das pressões no mercado de trabalho, queda na inflação provocando aumento estrutural do salário real, mudança na política monetária, forte redução dos custos em dólares no setor industrial em função do real fraco, melhora substancial do déficit de nossas contas externas e, principalmente, fim do pânico criado pela queda no vazio do consumo.
O ponto em aberto nesta recuperação cíclica é ainda a inclinação da curva em V, pois, diferentemente dos Estados Unidos, vivemos no Brasil hoje a ruptura de uma outra bolha especulativa - esta de natureza política - criada pelo fim da hegemonia de Lula e do PT. Se o ambiente institucional se acalmar e ficar evidente o cenário de uma hegemonia mais racional em relação à economia, o espírito animal dos empresários deve voltar e estimular os investimentos.
Na política temos hoje um quase consenso de que o período de Lula e do PT chegou - como todo período longo de hegemonia política - a um amargo fim. A história - no Brasil e em outros países - nos ensina que em seguida ao ocaso de uma força política, como acontece agora, segue-se um período de vazio de liderança e de falta de clareza em relação ao futuro. Mas também nos ensina o passado que este período dura pouco e que uma nova configuração de liderança começa a se formar. Esta fase já está em curso e a melhor prova disto é a mudança de projeto de poder do maior partido brasileiro, o PMDB.
Os traços definitivos destas mudanças ainda estão sendo construídos e apenas quando se chegar a uma massa crítica de poder é que a transição do governo Dilma para um outro será definida. Ouvi de uma analista que respeito que isto se dará quando a incerteza da operação Lava Jato, em relação ao rol de culpados, diminuir. Mas ela acredita que o desenho da transição vai ocorrer antes das eleições municipais do próximo ano. Isto também faz sentido para mim.
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Luiz Carlos Mendonça de Barros, engenheiro e economista, é diretor-estrategista da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações.
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