• Presidente do Senado chamou medidas do governo de ‘tacanhas’ e ‘insuficientes’
Simone Iglesias / Luiza Damé – O Globo
BRASÍLIA - Em pronunciamento na TV para fazer um balanço das ações no Senado no primeiro semestre, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), fez duras críticas ao ajuste fiscal do governo Dilma. Em discurso gravado na sexta-feira, chamou as medidas propostas pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, de “tacanhas” e “insuficientes”. Ele ainda elogiou o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, pela celeridade com que tem conduzido as votações no Congresso.
— O ajuste é insuficiente e tacanho. Até aqui, quem pagou a conta foi o andar de baixo. Esse ajuste sem crescimento econômico é cachorro correndo atrás do rabo, circular, irracional e não sai do lugar. É enxugar gelo até ele derreter. É preciso cortar ministérios, cargos comissionados, fazer a reforma do Estado e acabar com a prática da boquinha e apadrinhamento — declarou Renan, que é investigado pela operação Lava-Jato.
Em pronunciamento de quase 17 minutos, que foi ao ar na TV Senado, Renan chamou de “filme de terror” as crises política e econômica que o país enfrenta. Sem citar em nenhum momento o nome da presidente Dilma Rousseff, afirmou que o governo ignorou o pacto pelo trabalho proposto pelo Congresso, que trabalhou para minimizar as perdas dos trabalhadores e aposentados na aprovação do pacote de medidas do ajuste fiscal, que restringiram a concessão de benefícios trabalhistas e previdenciários.
— Estamos na escuridão assistindo a um filme de terror sem fim e precisamos de uma luz indicando que o horror terá fim. O país pede isso todos os dias.
Renan disse projeta um segundo semestre difícil e que o Congresso é contra qualquer medida do governo de aumento de impostos. A parlamentar afirmou ainda que a sociedade está no seu limite.
— Não diria que será um agosto ou um setembro negro, mas serão meses nebulosos. Os resultados do ajuste são modestos, muito aquém do prometido. O Congresso, majoritariamente, é refratário a aprovar novos tributos ou impostos. A sociedade já está no seu limite suportável com tarifaços, inflação e juros. Estamos num momento aterrador (…). Uma retração na economia. O ajuste está se revelando um desajuste social. Ele é um fim em si mesmo. Ele nem aponta, nem sinaliza, nem indica, nem sugere quando o país voltará a crescer — afirmou.
O presidente do Senado disse que os congressistas não serão “agentes da instabilidade” e que irão contribuir para proporcional tranquilidade e estabilidade.
— Diante das crises é preciso se reinventar, trabalhar e ter coragem. Negar a realidade é minimizar ou relativizar crises. É um atalho para o insucesso — disse.
Renan elogiou a atuação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), dizendo que ele impôs um novo ritmo de votações e que trabalharam juntos no primeiro semestre para otimizar os resultados das votações.
— Atuamos conjuntamente a fim de otimizar os resultados do Legislativo. Conseguimos. Um exemplo foi a Lei de Responsabilidade das Estatais, que acho muito importante para a transparência e controle social das empresas públicas — afirmou o peemedebista.
Em uma crítica à Dilma, com quem passou a ter uma relação ruim no segundo mandato da presidente, Renan afirma que sua aprovação na opinião pública “dispensa comentários”.
Lava-Jato
Renan também falou sobre a Operação Lava-Jato, que apura o esquema de corrupção na Petrobras. O presidente do Senado afirmou que todos devem responder às demandas da Justiça e que uma investigação isenta vai comprovar o que tem dito. Segundo Renan, as denúncias contra ele são como "disco arranhado" e não trazem fatos novos. O senador disse que o deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE), apontado como seu intermediário no esquema, não tem autorização para falar em seu nome e que mantém uma relação institucional com as empresas públicas.
— Não tenho nenhuma relação com o que está sendo investigado — afirmou.
Em meio ao debate sobre o impeachment de Dilma, o senador defendeu o direito de o PMDB disputar a Presidência da República "nas urnas". Renan criticou a busca do poder através de medidas "à margem da legalidade". Ele disse que legitimidade é um conceito fundamental para o governo e que "democracia não se confunde com vassalagem".
— O PMDB não pode sucumbir ao aparelhamento. Não é inteligente fazer isso. Vejo com felicidade que o PMDB refuta ser coadjuvante e vai em busca do protagonismo. Não somos defensores de medidas marginais que estejam à margem da legalidade. O poder é conquistado nas urnas, no convencimento do eleitor e na credibilidade das propostas e programa de governo — afirmou.
TCU
Sobre o julgamento das contas da presidente, Renan disse que é preciso esperar o julgamento do Tribunal de Contas da União (TCU), previsto para agosto. Antes disso, segundo Renan, "tudo não passará de especulação e probabilidade, que não são bons orientadores".
Ao falar sobre o processo de aprovação do nome do ministro Luiz Edson Fachin para o Supremo Tribunal Federal (STF), Renan criticou a atuação da imprensa:
— Hoje está mais fácil interpretar a realidade nacional nas feiras, shoppings e ruas do que nas manchetes dos noticiários, mas o Senado será sempre guardião da liberdade de expressão em qualquer circunstância.
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