• Dificuldades financeiras em entidade de ex-presidente têm sido usadas como argumento para convencê-lo a aceitar comandar sigla
Ricardo Galhardo – O Estado de S. Paulo
As dificuldades financeiras enfrentadas pelo Instituto Lula desde que o nome da entidade foi envolvido na Operação Lava Jato se transformaram em um dos argumentos de setores e lideranças do PT favoráveis a que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva assuma a presidência do partido.
Segundo fontes próximas ao ex-presidente, o instituto parou de receber doações privadas desde que foi envolvido em investigações da força-tarefa de Curitiba. Isso fez com que o PT passasse a arcar com algumas despesas do ex-presidente, como viagens para fazer campanha pelos candidatos do partido, serviços de vídeo e fotografia nos quais Lula aparece ao lado de petistas que disputaram as eleições municipais, entre outras.
A assessoria de imprensa do Instituto Lula informou que a entidade tem recursos suficientes para continuar funcionando durante “alguns anos”, tanto por meio de orçamento próprio quanto por meio de convênios com entidades internacionais com as quais tem parcerias em projetos de combate à fome e integração latino-americana.
Fontes próximas, porém, admitem que as doações, principal fonte de receitas do órgão, cessaram por causa da Lava Jato. Segundo relatório da Polícia Federal, entre 2011 e 2014 o Instituto Lula recebeu R$ 34,9 milhões em doações – 60% vieram das empreiteiras Camargo Corrêa, Odebrecht, Queiroz Galvão e Andrade Gutierrez, todas na mira da operação que investiga formação de cartel e corrupção na Petrobrás.
A diminuição das receitas fez com que a direção da entidade revisse metas e reduzisse programas para se adequar à nova realidade.
Há pelo menos um mês, setores do PT defendem que Lula assuma a presidência do partido como a única forma de evitar embates internos e manter a unidade da legenda, que enfrenta a pior crise de sua história. O ex-presidente tem se recusado a aceitar a tarefa. Na reunião do Diretório Nacional do PT realizada no dia 20 do mês passado, Lula pediu ao presidente do PT, Rui Falcão, que tornasse pública sua recusa.
Mesmo assim, forças importantes do partido vão insistir para que Lula aceite a presidência do PT mesmo que seja por um período curto, de um ano, como forma de evitar rachas enquanto a legenda tenta se recuperar das avarias causadas pela Lava Jato e pelo impeachment de Dilma Rousseff. “Está meio embaraçado, mas ainda acho que deve ser ele”, disse Jorge Coelho, um dos vice-presidentes do PT.
Mais de uma liderança petista colocou na mesa, em conversas com Lula, a questão financeira. Eles argumentam que na condição de presidente do PT todas as suas despesas seriam custeadas pelo partido, poupando o caixa do Instituto Lula.
Pressão. A pressão para que o PT decida não apenas os nomes da nova direção, como também a forma como ela será escolhida – por meio de um congresso de delegados ou por eleição direta – tem aumentado conforme o tempo passa. Na semana passada, o ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro, integrante do Diretório Nacional e líder da corrente Mensagem ao Partido, a segunda maior da sigla, cobrou publicamente a renúncia imediata de toda a cúpula petista.
A renovação da direção petista deveria ter sido encaminhada na reunião do dia 20 do mês passado, mas a definição foi adiada para o fim deste mês. A ideia é dar tempo a Lula para que ele ou aceite a presidência ou encontre uma alternativa de consenso. Segundo interlocutores, ele está preocupado com as divisões dentro da corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), a maior tendência interna, da qual faz parte.
Na semana passada, o ex-presidente foi informado de que a secretária de Relações Internacionais, Monica Valente, mulher do ex-tesoureiro Delúbio Soares, apresentou seu nome à CNB como opção para presidir o PT. Lula considerou a proposta “absurda”.
O ex-presidente vai marcar conversas, a partir de segunda-feira, com as principais forças internas do PT para tentar construir uma solução. Ele deve dizer aos dirigentes petistas que o momento é de crise profunda e, portanto, os interesses pessoais e disputas internas devem ser deixados de lado.
Falcão já avisou o partido que deixa a direção ainda no primeiro semestre de 2017. Com ele, devem sair todos os 19 integrantes da Executiva Nacional. A expectativa de Lula é de que, com a derrota acachapante nas eleições municipais e a perda dos cargos no governo federal, as correntes apresentem seus melhores quadros, de preferência nomes com experiência eleitoral que dialoguem “para fora” do partido, para compor a nova direção. Lula tem se queixado da excessiva burocratização da direção petista.
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