• Fotos e documentos nos computadores do sobrinho de Lula mostram um pouco do ambiente de alegre convescote em que se davam os negócios da Lava-Jato
Thiago Bronzatto – Veja
Lula e a Odebrecht vestiram a mesma camisa durante anos. Quando ainda estava no Palácio do Planalto, o ex-presidente ajudou a empreiteira a expandir seus negócios, enquanto a construtora ajudava Lula a expandir seu poder. A relação simbiótica rendeu dividendos para os dois lados. A empresa multiplicou suas receitas, Lula multiplicou seu patrimônio e o de seus familiares. Até seu sobrinho Taiguara Rodrigues dos Santos faturou com a tabelinha. O jovem passou de vidraceiro falido no litoral paulista a sócio de uma empresa de engenharia com contratos milionários com a Odebrecht. A foto da camisa do Corinthians no início desta reportagem, encontrada pela Polícia Federal no computador de Taiguara, mostra que eles — Lula, o sobrinho e a Odebrecht — jogavam no mesmo time. A camisa, autografada por Lula, foi um presente de Taiguara e do ex-presidente ao “amigo Ernesto”, que vem a ser o executivo Ernesto Baiardi, diretor internacional da Odebrecht, responsável pelo mercado em Angola.
Na semana passada, Lula e Taiguara foram indiciados por corrupção. Conforme VEJA havia antecipado em sua última edição, a PF encontrou mensagens, fotos, documentos e anotações que não deixam dúvida sobre as relações financeiras entre os acusados. Na triangulação, Lula conseguia financiamentos camaradas para a Odebrecht, que contratava o ex-presidente para dar palestras a seus executivos, que, por sua vez, pagaram 7 milhões de reais ao ex-vidraceiro Taiguara, transformado em empresário do ramo de construção de hidrelétricas exatamente na Angola do “amigo Ernesto”. Taiguara repartia os lucros com a família de Lula e ajudou até a financiar a campanha do petista Luiz Marinho à prefeitura de São Bernardo do Campo em 2012. Nas horas vagas, fazia lobby em favor de empresas e pessoas interessadas em negócios que dependiam da influência do tio poderoso. Um círculo virtuoso para todos.
De acordo com o relatório dos delegados da Polícia Federal Fernanda Costa de Oliveira e Guilherme Alves de Siqueira, as provas colhidas demonstram que Lula e o sobrinho solicitaram vantagens financeiras e influenciaram no BNDES. As defesas de Lula e de Taiguara, que também foi indiciado pelo crime de lavagem de dinheiro, negam as acusações. O relatório da PF será analisado pelo Ministério Público Federal, que deverá decidir se vai apresentar uma denúncia contra os suspeitos. A situação do tio e do sobrinho tende a se agravar um pouco mais. Um dos cartolas do time decidiu quebrar o silêncio. Em proposta de acordo de delação premiada na Operação Lava-Jato, Alexandrino Alencar, ex-diretor da Odebrecht, informou que a contratação de Taiguara ocorreu a pedido de Lula. Os detalhes só serão dados depois de fechado o acordo de colaboração, mas é certo que haverá novas baixas em breve. O jogo entrou na fase final.
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