segunda-feira, 8 de setembro de 2025

Ao lado de Michelle, Tarcísio critica 'tirania de Moraes', e pede anistia: 'deixa Bolsonaro ir pra urna, qual o problema?'

Por Hyndara FreitasSérgio Quintella / O Globo

Governador de São Paulo pediu que Hugo Motta paute o projeto de anistia 'ampla e irrestrita', criticou STF e disse que não há 'nenhuma prova' ligando ex-presidente aos atos golpistas

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmou, neste domingo (7), que "ninguém aguenta mais a tirania de um ministro como Alexandre de Moraes", disse que não há "nenhuma prova" ligando o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) aos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 e pediu que o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, paute a anistia. Motta é do mesmo partido de Tarcísio

A fala foi feita durante discurso em ato na Avenida Paulista, que foi convocado por lideranças da direita em defesa do ex-presidente e da anistia aos condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. O governador clamou por "Bolsonaro nas urnas" e voltou a dizer que seu padrinho político, que está inelegível, "é o único candidato".

— Ninguém aguenta mais a tirania de um ministro como o Moraes, ninguém aguenta mais o que está acontecendo neste país. Será que a gente está vivendo um estado livre, democrático? Certamente não. É esse cenário que a gente tem que mudar. É por isso que a gente está aqui para dizer para o Hugo Motta, paute a anistia! Hugo, paute, paute a anistia! Deixe a Casa decidir, e eu tenho certeza que ele vai fazer isso porque trazer a anistia para a pauta é resgatar a justiça, é resgatar o país. Não podemos nos afastar do império da lei — falou, ao lado da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL).

Em um discurso de cerca de 15 minutos, Tarcísio subiu o tom em relação ao STF, disse que Bolsonaro "é o único candidato" e pediu que ele dispute a eleição em 2026. O ex-presidente está inelegível até 2030, por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e o governador de São Paulo é considerado o principal nome para representar a direita na disputa ao Planalto no ano que vem.

— Só há uma forma de resolver isso, é a anistia ampla. Temos que viver num país onde as divergências sejam resolvidas na urna, deixa Bolsonaro ir para a urna, qual o problema? Ele é nosso candidato e tenho certeza que, ele indo para a urna, ele vai ganhar a eleição. Nós não vamos aceitar a ditadura de um poder sobre o outro, é isso que precisamos defender, chega do abuso, chega — acrescentou.

Tarcísio chamou os condenados pelo 8 de janeiro de "presos políticos" e disse que não se pode aceitar "que nenhum ditador diga o que a gente tem que fazer".

— Nós não vamos mais aceitar a imposição de um poder sobre o outro, vamos lutar para que a arbitrariedade tenha fim e tenho certeza que em pouco tempo vamos restabelecer a ordem desse país — afirmou para uma Avenida Paulista lotada, que entoou gritos de "fora, Moraes". — Se toda trama, todo enredo, toda narrativa foi construída em cima de uma delação mentirosa, se não tem um texto, um áudio, vinculando Bolsonaro ao 8 de janeiro, é tudo muito fragil, muito tênue, como vamos admitir uma condenação?

Tarcísio defendeu a anistia "ampla e irrestrita" para retomar a tradição de "conciliação" do país, e que "se o PT existe hoje é porque houve anistia em 1979", citando a Lei da Anistia relacionada à Ditadura Militar.

— A gente precisa se perguntar: liberdade, democracia representativa, Estado de direito, por que as vezes a gente é tão tímido para defender esses ideias? Não sejamos tímidos. Vamos defender a nossa democracia representativa e é fundamental que, para isso, as pessoas possam ser avaliadas nas urnas, é fundamental que tenhamos Jair Messias Bolsonaro na eleição do ano que vem. Só existe um candidato para nós, que é Jair Messias Bolsonaro — destacou.

Chorando, Michelle faz discurso religioso

Michelle foi a última a discursar e entrou no trio pouco antes das 17h. Chorando, falou que os dias "não têm sido fáceis” e que está se desdobrando como “mãe, esposa, presidente do PL e como amiga para cuidar de Bolsonaro”, lembrou da facada e do 7 de Setembro de 2022, quando Bolsonaro ainda era presidente. O ex-presidente está em prisão domiciliar há pouco mais de um mês, e não pode sair de sua casa, em Brasília.

— A Constituição não tem sido respeitada, porque no artigo 5º da Constituição fala que a casa é um asilo inviolável. Ali fala que ninguém vai sofrer tortura, que ninguém vai sofrer a violação dos seus direitos, e todos os dias isso acontecer na porta da minha casa, vejo os policiais na esquina, a imagem da minha família sendo violada, a minha filha de 14 anos indo para a escola todos os dias tendo que abrir a porta do carro para verificar se tem alguém escondido dentro, todos os dias alguém revista o meu carro. É muita humilhação que estamos vivendo — falou.

Michelle disse que era Bolsonaro que deveria estar no trio, mas ele está "amordaçado dentro de casa, com uma tornozeleira, não foi julgado e está preso, com policiais toda hora olhando os muros dos vizinhos para ver se ele não vai pular".

— Um homem de 75 anos com sequelas de uma facada, como um homem desse vai pular? Parece brincadeira — acrescentou a líder do PL Mulher, que ainda disse não poder mais fazer cultos religiosos dentro de sua casa. Ao fim da fala, ela puxou um Pai Nosso e orou com a multidão.

O ato foi convocado por Silas Malafaia, pelo senador Flavio Bolsonaro (PL-RJ) e por outras lideranças da direita em defesa da anistia do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e dos condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. A manifestação teve discursos e cartazes pedindo a absolvição do ex-presidente, que está em julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), e pedidos de impeachment do ministro Alexandre de Moraes.

Em sua fala, Malafaia se dirigiu a Tarcísio e disse que já o criticou "em público e no privado", mas agradeceu seu empenho nas últimas semanas em prol da anistia. Na semana passada, o governador passou dois dias em Brasília, onde se reuniu com lideranças partidárias para tentar avançar com a aprovação do projeto. Sem citar nomes, o pastor criticou movimentos de nomes da direita para uma candidatura presidencial no ano que vem.

— Nenhum filho de Bolsonaro nem ninguém da direita tem que dizer 'se Bolsonaro não for candidato, eu estou aqui'. Isso é imaturidade política. Lula na cadeia, um dia antes do prazo final de candidatura pelo TSE na eleição de 2018, um dia antes, ele indiciou o Haddad. Que papo é esse de vir aqui dizer que A, B ou C é candidato da direita? Calem a boca! — disse.

O julgamento de Bolsonaro e mais sete réus pela trama golpista ocorre na Primeira Turma do tribunal, e começou nesta semana com as alegações finais das defesas e da Procuradoria-Geral da República (PGR). A análise do caso será retomada a partir de terça-feira (9).

Bolsonaro responde pelos crimes de organização criminosa (pena de 3 a 8 anos, até mais 4 por emprego de arma de fogo e mais 5 anos pelo concurso de funcionário público); tentativa de abolição violenta do estado democrático de direito (4 a 8 anos); golpe de Estado (4 a 12 anos); dano qualificado pela violência e grave ameaça (6 meses a 3 anos); e deterioração de patrimônio tombado (1 a 3 anos).

Além do ex-presidente, são réus na ação mais sete pessoas: Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil; Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI); Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal; Paulo Sergio Nogueira, ex-ministro da Defesa; Almir Santos Garnier, ex-comandante da Marinha; Alexandre Ramagem, deputado federal e ex-diretor da Abin; e Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.

 

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