Por Hyndara Freitas e Sérgio Quintella / O Globo
Governador de São Paulo pediu que Hugo Motta
paute o projeto de anistia 'ampla e irrestrita', criticou STF e disse que não
há 'nenhuma prova' ligando ex-presidente aos atos golpistas
O governador de São Paulo, Tarcísio
de Freitas (Republicanos) afirmou, neste domingo (7), que
"ninguém aguenta mais a tirania de um ministro como Alexandre
de Moraes", disse que não há "nenhuma prova" ligando o ex-presidente Jair
Bolsonaro (PL) aos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 e pediu que
o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, paute a anistia. Motta é do
mesmo partido de Tarcísio
A fala foi feita durante discurso em ato na Avenida Paulista, que foi convocado por lideranças da direita em defesa do ex-presidente e da anistia aos condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. O governador clamou por "Bolsonaro nas urnas" e voltou a dizer que seu padrinho político, que está inelegível, "é o único candidato".
— Ninguém aguenta mais a tirania de um
ministro como o Moraes, ninguém aguenta mais o que está
acontecendo neste país. Será que a gente está vivendo um estado
livre, democrático? Certamente não. É esse cenário que a gente tem que mudar. É
por isso que a gente está aqui para dizer para o Hugo Motta, paute a anistia!
Hugo, paute, paute a anistia! Deixe a Casa decidir, e eu tenho certeza que ele
vai fazer isso porque trazer a anistia para a pauta é resgatar a justiça, é resgatar
o país. Não podemos nos afastar do império da lei — falou, ao
lado da ex-primeira-dama Michelle
Bolsonaro (PL).
Em um discurso de cerca de 15 minutos,
Tarcísio subiu o tom em relação ao STF, disse que Bolsonaro "é o único
candidato" e pediu que ele dispute a eleição em 2026. O ex-presidente está
inelegível até 2030, por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e o
governador de São Paulo é considerado o principal nome para representar a
direita na disputa ao Planalto no ano que vem.
— Só há uma forma de resolver isso, é a
anistia ampla. Temos que viver num país onde as divergências sejam resolvidas
na urna, deixa Bolsonaro ir para a urna, qual o problema? Ele é nosso candidato
e tenho certeza que, ele indo para a urna, ele vai ganhar a eleição. Nós não
vamos aceitar a ditadura de um poder sobre o outro, é isso que precisamos
defender, chega do abuso, chega — acrescentou.
Tarcísio chamou os condenados pelo 8 de
janeiro de "presos políticos" e disse que não se pode aceitar
"que nenhum ditador diga o que a gente tem que fazer".
— Nós não vamos mais aceitar a imposição de
um poder sobre o outro, vamos lutar para que a arbitrariedade tenha fim e tenho
certeza que em pouco tempo vamos restabelecer a ordem desse país —
afirmou para uma Avenida Paulista lotada, que entoou gritos de "fora,
Moraes". — Se toda trama, todo enredo, toda narrativa foi construída em
cima de uma delação mentirosa, se não tem um texto, um áudio, vinculando
Bolsonaro ao 8 de janeiro, é tudo muito fragil, muito tênue, como vamos admitir
uma condenação?
Tarcísio defendeu a anistia "ampla e
irrestrita" para retomar a tradição de "conciliação" do país, e
que "se o PT existe hoje é porque houve anistia em 1979", citando a
Lei da Anistia relacionada à Ditadura Militar.
— A gente precisa se perguntar: liberdade,
democracia representativa, Estado de direito, por que as vezes a gente é tão
tímido para defender esses ideias? Não sejamos tímidos. Vamos defender a nossa
democracia representativa e é fundamental que, para isso, as pessoas possam ser
avaliadas nas urnas, é fundamental que tenhamos Jair Messias Bolsonaro na
eleição do ano que vem. Só existe um candidato para nós, que é Jair Messias
Bolsonaro — destacou.
Chorando, Michelle faz discurso religioso
Michelle foi a última a discursar e entrou no
trio pouco antes das 17h. Chorando, falou que os dias "não têm sido
fáceis” e que está se desdobrando como “mãe, esposa, presidente do PL e como
amiga para cuidar de Bolsonaro”, lembrou da facada e do 7 de Setembro de 2022,
quando Bolsonaro ainda era presidente. O ex-presidente está em prisão
domiciliar há pouco mais de um mês, e não pode sair de sua casa, em Brasília.
— A Constituição não tem sido respeitada,
porque no artigo 5º da Constituição fala que a casa é um asilo inviolável. Ali
fala que ninguém vai sofrer tortura, que ninguém vai sofrer a violação dos seus
direitos, e todos os dias isso acontecer na porta da minha casa, vejo os
policiais na esquina, a imagem da minha família sendo violada, a minha filha de
14 anos indo para a escola todos os dias tendo que abrir a porta do carro para
verificar se tem alguém escondido dentro, todos os dias alguém revista o meu
carro. É muita humilhação que estamos vivendo — falou.
Michelle disse que era Bolsonaro que deveria
estar no trio, mas ele está "amordaçado dentro de casa, com uma
tornozeleira, não foi julgado e está preso, com policiais toda hora olhando os
muros dos vizinhos para ver se ele não vai pular".
— Um homem de 75 anos com sequelas de uma
facada, como um homem desse vai pular? Parece brincadeira — acrescentou a líder
do PL Mulher, que ainda disse não poder mais fazer cultos religiosos dentro de
sua casa. Ao fim da fala, ela puxou um Pai Nosso e orou com a multidão.
O ato foi convocado por Silas
Malafaia, pelo senador Flavio Bolsonaro (PL-RJ) e por outras lideranças da
direita em defesa da anistia do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e dos
condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. A manifestação teve
discursos e cartazes pedindo a absolvição do ex-presidente, que está em
julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), e pedidos de impeachment do
ministro Alexandre de Moraes.
Em sua fala, Malafaia se dirigiu a Tarcísio e
disse que já o criticou "em público e no privado", mas agradeceu seu
empenho nas últimas semanas em prol da anistia. Na semana passada, o
governador passou dois dias em Brasília, onde se reuniu com lideranças
partidárias para tentar avançar com a aprovação do projeto. Sem citar
nomes, o pastor criticou movimentos de nomes da direita para uma candidatura
presidencial no ano que vem.
— Nenhum filho de Bolsonaro nem ninguém da
direita tem que dizer 'se Bolsonaro não for candidato, eu estou aqui'. Isso é
imaturidade política. Lula na
cadeia, um dia antes do prazo final de candidatura pelo TSE na eleição de 2018,
um dia antes, ele indiciou o Haddad. Que papo é esse de vir aqui dizer que A, B
ou C é candidato da direita? Calem a boca! — disse.
O julgamento de Bolsonaro e mais sete réus
pela trama golpista ocorre na Primeira Turma do tribunal, e começou nesta
semana com as alegações finais das defesas e da Procuradoria-Geral da República
(PGR). A análise do caso será retomada a partir de terça-feira (9).
Bolsonaro responde pelos crimes de
organização criminosa (pena de 3 a 8 anos, até mais 4 por emprego de arma de
fogo e mais 5 anos pelo concurso de funcionário público); tentativa de abolição
violenta do estado democrático de direito (4 a 8 anos); golpe de Estado (4 a 12
anos); dano qualificado pela violência e grave ameaça (6 meses a 3 anos); e
deterioração de patrimônio tombado (1 a 3 anos).
Além do ex-presidente, são réus na ação mais
sete pessoas: Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil;
Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI); Anderson
Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito
Federal; Paulo Sergio Nogueira, ex-ministro da Defesa; Almir Santos Garnier,
ex-comandante da Marinha; Alexandre Ramagem, deputado federal e ex-diretor da
Abin; e Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
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