quarta-feira, 29 de outubro de 2025

Ação no Rio joga segurança no centro da campanha de 2026, por Igor Gielow

Folha de S. Paulo

Castro tenta culpar Planalto por um erro seu, expondo flanco numa área em que o discurso bolsonarista é mais conhecido

Esquerda tem dificuldade para lidar com a questão da violência, como a frase do presidente sobre traficantes prova

A operação da polícia fluminense contra o Comando Vermelho, necessária que tenha sido, escancara uma politização do tema da segurança pública que verá o assunto como candidato a prioridade dos rivais na campanha presidencial de 2026.

Há anos isso é dito, mas a questão é que, apesar da atribuição constitucional sobre o assunto recair mais sobre estados, na prática o poder federal tem se envolvido crescentemente no tema, da primeira GLO (Operação de Garantia da Lei e da Ordem) em 1992 ao pacote antifacção proposto pelo governo Lula (PT) na semana passada.

Num país em que a urgência de se lidar com o crime organizado parece ter virado preocupação nacional, num continente no qual uma superpotência nuclear tem explodido barcos atribuídos a traficantes sem perguntar a ninguém, é natural que seja assim.

O problema da politização é quando ela deixa o campo de priorizar os assuntos. Se é possível enfileirar momentos de oportunismo do Ministério da Justiça, que aliás também é da Segurança Pública, a conta nesta terça-feira (28) parece ser responsabilidade de Cláudio Castro (PL).

O governador do Rio tentou espetar em Lula culpa por eventuais problemas em sua operação. Disse que pediu ajuda às Forças Armadas porque queria blindados nas ruas, só que esqueceu de fazer a solicitação à autoridade competente, no caso o presidente.

O Ministério da Defesa só disse o óbvio: mobilizar militares é tema de GLOs, que têm de ser requisitadas ao Planalto com a admissão de incapacidade específica das forças estaduais. O ministro Ricardo Lewandowski (Justiça) aproveitou e dobrou a aposta, ressaltando a questão da eventual incompetência da polícia de Castro, mantendo a politização.

Com seu escorregão político e com a violência da operação, Castro abriu um flanco do embate entre o seu bolsonarismo e o petismo que pode ter reflexos em 2026. Historicamente, o PT e a esquerda têm enormes dificuldades de lidar com o assunto.

A frase de Lula vitimizando traficantes de drogas e culpando usuários, que logo sua equipe de marketing classificou de "mal colocada", é prova cabal disso, apesar dos esforços recentes do governo em se mostrar ativo na área.

Além do supracitado pacote antifacção, partiu da Receita Federal a Operação Carbono Oculto, que no fim de agosto deixou claro para quem ainda não sabia como o PCC se imiscuiu em setores formais da economia, seja por coerção ou por cumplicidade dos atores civis, por assim dizer.

Ainda assim, a primazia retórica no trato com os bandidos sempre foi da direita brasileira. Da "Rota na rua" do prócer da turma em São Paulo, o ex-prefeito e ex-governador Paulo Maluf, até as variações bolsonaristas de "cancelamento de CPF" e "bandido bom é bandido morto", a ressonância popular sempre foi maior nesse espectro.

Por evidente, há erros de sobra nessa abordagem também. A alta letalidade da polícia de Tarcísio de Freitas (Republicanos), o governador de São Paulo que é candidato a ocupar o espaço do inelegível e condenado Jair Bolsonaro (PL), está longe de ser um ativo em si.

O grupo comete erros ao falar de segurança, como demonstraram Tarcísio, Castro e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que sugeriu aos EUA que bombardeassem barcos de traficantes na costa brasileira. Com a batalha da defesa da soberania já perdida pelo bolsonarismo, algo coroado pelo encontro de Lula com Donald Trump, foi um duplo tiro no pé.

Assim, de erro em erro, momentos de coordenação vital para atacar a raiz de um problema vão se perdendo. Devem ganhar os debates em 2026, restando saber se algo sobrará após a contagem dos votos.

 

Nenhum comentário: