O Estado de S. Paulo
Novo ministro provoca alas do PT, que o veem fortalecido para furar a fila no pós-Lula
A entrada de Guilherme Boulos na “cozinha” do Palácio do Planalto é uma aposta do presidente Lula com muitos desdobramentos políticos. É cedo para dizer que Lula quer Boulos como seu sucessor, mas esta é uma hipótese no tabuleiro, apesar das resistências no PT.
Escolhido para comandar a Secretaria-Geral da Presidência, Boulos toma posse na tarde de hoje, com a tarefa de religar a conexão perdida entre o governo e os movimentos sociais. Terá duas grandes missões: 1) ser uma espécie de “mascate” digital, anunciando as boas-novas do governo nas redes sociais e fazendo a disputa política e 2) investir nos territórios populares, com um olhar atento para a juventude e o novo mundo do “empreendedorismo”.
Apesar de ser recebido agora com tapete
vermelho no Planalto, uma ala do PT o vê com desconfiança. Os “senões” ao novo
ministro, hoje deputado licenciado do PSOL, refletem não só ciúme, mas receio
de que ele fure a fila petista e seja o herdeiro do espólio de Lula, em 2030.
A fila é encabeçada pelo titular da Fazenda,
Fernando Haddad, mas também conta com os ministros da Educação, Camilo Santana,
e da Casa Civil, Rui Costa, além do prefeito do Recife,
João Campos, que é presidente do PSB. Poucos sabem, mas, depois das eleições de 2018, quando ainda estava preso em Curitiba, Lula convidou Boulos – que havia perdido o embate presidencial – para se filiar ao PT. Queria que ele fosse candidato a prefeito de São Paulo pelo partido, dois anos depois.
Boulos, no entanto, preferiu concorrer pelo
PSOL porque percebeu a dificuldade no PT. A contragosto de Lula, Jilmar Tatto
disputou a Prefeitura, em 2020, e amargou a sexta posição.
Os episódios que se seguiram são conhecidos:
Boulos desistiu da corrida ao governo paulista, em 2022, e pediu votos para
Haddad naquela campanha ao Bandeirantes. Em troca, o PT o apoiou no ano passado
para a Prefeitura, não sem protestos.
Prestes a lançar sua candidatura ao quarto
mandato, Lula monta agora o jogo para 2026 com vários cenários, que dependem de
quem será o seu desafiante nas fileiras da direita. Com a retomada da
popularidade do presidente, porém, o PT já começa a subir no salto alto.
A Boulos caberá dar um “chacoalhão” no
governo pela esquerda, tentando atrair também setores que hoje se veem
representados pelo bolsonarismo, como os dos entregadores e motoristas de
aplicativos. Nesse capítulo, a briga com alas do PT, que não admitem a nova
realidade do mundo do trabalho, é acirrada. Noves fora, com tantas
divergências, ninguém arrisca dizer se Boulos será ou não o sucessor de Lula.
Mas uma coisa é certa: se for, terá de se filiar ao PT. •

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