O Globo
Após maior matança da história do estado,
governador critica ministérios e STF
Ainda não era meio-dia quando a equipe de
Cláudio Castro abasteceu as redes com um vídeo sobre a operação de ontem. A
peça foi embalada com trilha sonora de filme de ação. Exibia policiais de
uniforme camuflado, viaturas em alta velocidade e um fuzil repousado no
asfalto.
Estrelado por forças públicas, o vídeo tinha
fins particulares. Ao fundo, uma marca-d’água convidava o visitante a seguir o
perfil pessoal do governador. Um instantâneo da política na era do Instagram,
em que até matanças viram material de autopromoção.
Castro apostou alto na megaoperação que mobilizou 2.500 agentes com o objetivo declarado de combater o Comando Vermelho. A ação se concentrou nos complexos da Penha e do Alemão. Resultou num banho de sangue nunca antes visto no Rio: ao menos 64 mortos, sendo quatro policiais.
Dezenas de corpos ainda jaziam nas favelas
quando o governador subiu no palanque. Buscava um bode expiatório para a crise
na segurança do estado. Diante das câmeras, ele atacou o governo federal e o
STF. Disse que o Rio estaria “sozinho” e criticou o julgamento que impôs regras
para reduzir a letalidade policial. “Não temos ajuda”, discursou.
Mais tarde, o ministro Ricardo Lewandowski
informou que não houve pedido de apoio antes ou durante a operação. Ouvido pela
Folha de S.Paulo, opinou que Castro arrisca ser “engolido pelo crime”. “Se ele
sentir que não tem condições, ele tem que jogar a toalha e pedir GLO ou intervenção
federal”, disse.
Alheios ao bate-boca das autoridades, os
cariocas viveram mais um dia de pânico. As principais vias expressas foram
fechadas. O tráfico sequestrou ao menos 70 ônibus e montou barricadas em
diversos pontos da cidade. O sistema de transporte público ficou
sobrecarregado, e milhares de pessoas não conseguiram voltar para casa.
A polícia informou que prendeu 81 suspeitos e
apreendeu 93 fuzis. A ver se isso produzirá alguma diferença no poderio do CV e
no cotidiano das comunidades dominadas pelo crime.
Com a popularidade na lona e o futuro
político incerto, Castro renovou a aposta no bangue-bangue. Na legenda do vídeo
que festejou a matança, ele emulou Donald Trump ao falar em “narcoterrorismo” e
prometeu continuar “enfrentando de frente (sic) os vagabundos”

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