André Guilherme Vieira - Valor Econômico
SÃO PAULO - O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras e delator Paulo Roberto Costa afirmou que a Braskem, braço petroquímico da Odebrecht, pagou parte da propina por ele recebida em contas secretas na Suíça, abertas pelo operador Bernardo Freiburghaus.
Costa reafirmou ontem à força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba ter participado de reuniões na sede da petrolífera com Alexandrino Alencar (então vice-presidente de Relações Institucionais da Braskem) em que se acertou pagamento de "contraprestação financeira" de US$ 3 milhões a US$ 5 milhões por ano, entre 2006 e 2012, para favorecer a empresa na compra de nafta. Alencar se demitiu ontem da diretoria de Relações Institucionais da Odebrecht. Ele foi preso temporariamente na sexta-feira durante a 14ª fase da Lava-Jato. O juiz Sergio Moro estendeu a detenção provisória até o final da tarde de hoje, para que avalie pedido da Polícia Federal (PF), que quer o executivo em prisão preventiva. Os outros três presos temporários foram liberados.
No depoimento ordenado pelo Supremo Tribunal Federal, o ex-diretor de Abastecimento disse que parte desses pagamentos pode ter sido "operacionalizado no Brasil por José Janene", mas que a maioria dos valores pagos pela Braskem "chegou às suas mãos por meio de Bernardo [Freiburghaus]".
Costa contou ter presenciado Alencar "tratando do assunto relativo ao pagamento de propinas" em reunião em hotel de São Paulo em que Janene estava presente. "Nessa oportunidade foi tratado de forma clara o assunto relacionado ao pagamento de vantagens ilícitas em troca de benefícios à Braskem na compra de nafta da Petrobras".
Ouvido anteontem pela PF em Curitiba, Alencar disse ter mantido contatos com Janene entre 2002 e 2005 para tratar da consolidação do setor petroquímico. Ele falou que esperava que a Petrobras pudesse fornecer nafta por preço "que não prejudicasse a competitividade".
Afirmou que a partir de 2007 tratou com Janene sobre "a quem a Odebrecht iria apoiar politicamente" e que a empresa "fez doações ao PP e a alguns candidatos nos anos de 2008 e 2010".
Ele negou o fornecimento de nafta à Braskem pela Petrobras por preço vantajoso. Disse ser falsa a afirmação feita também pelo doleiro Alberto Youssef, de que o benefício teria a contrapartida de propina de até US$ 5 milhões.
Em nota, "a Braskem reafirma que todos os contratos com a Petrobras seguiram os preceitos legais e foram aprovados de forma transparente de acordo com as regras de governança da Companhia". O comunicado diz que "os preços praticados pela Petrobras na venda de nafta sempre estiveram atrelados às mais altas referências internacionais de todo o setor, prejudicando a competitividade da indústria petroquímica brasileira".
Alexandrino Alencar nega ter intermediado qualquer tipo de pagamento a ex-dirigentes da Petrobras. Segundo sua defesa, "as contradições entre os depoimentos de Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef, reiteradas no depoimento do ex-diretor, confirmam a fragilidade das acusações".
O advogado Augusto Botelho ressalta que Youssef atribui a Costa ingerência sobre o preço da nafta, enquanto o ex-executivo diz que a questão era de definição técnica.
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