Ricardo Brandt, enviado especial a Curitiba, Mateus Coutinho e Julia Affonso – O Estado de S. Paulo
• Em novo depoimento, prestado nesta terça, Paulo Roberto Costa envolve Bernard Freiburghaus e detalha pagamento de petroquímica intermediado por ex-diretor da Odebrecht, Alexandrino Alencar
O ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa detalhou em depoimento prestado nesta terça-feira, 23, à Polícia Federal o pagamento de propina de US$ 5 milhões por ano pela petroquímica Braskem – empresa que tem a Odebrecht como sócia da Petrobrás – intermediado pelo diretor demissionário da Construtora Norberto Odebrecht Alexandrino Ramos de Alencar. Primeiro delator da Operação Lava Jato, ele revelou que o doleiro Bernardo Freiburghaus, acusado de operar propina para a empreiteira, foi quem cuidou dos depósitos em contas secretas mantidas na Suíça.
Alexandrino Alencar trabalhou na Braskem de 2002 a 2007, quando foi transferido para a holding da Odebrecht. Até a noite de segunda, ele era diretor de Relações Institucionais da empreiteira. Após a empreiteira confirmar a demissão do diretor, sua prisão temporária de cinco dias foi prorrogada por mais um dia pelo juiz federal Sérgio Moro – que conduz os processos da Lava Jato, em Curitiba.
Segundo Costa, ele, Alexandrino Alencar e o ex-deputado José Janene (morto em 2010) negociaram o pagamento das propinas da Braskem em um encontro em hotel na capital paulista. De acordo com o delator, o esquema de propinas teria perdurado de 2006 a 2012 com a atuação de Freiburghaus no exterior.
“Um percentual deste montante (propina) era destinado a sua pessoa (Paulo Roberto Costa), tendo recebido valores junto a suas contas mantidas na Suíça por meio do operador Bernard Freiburghaus”, relatou Costa no seu depoimento.
Freiburghaus, que mora na Suíça é tratado pelos investigadores como peça-chave para a descoberta do suposto envolvimento da Odebrecht no esquema de cartel e corrupção na Petrobrás. Ele é considerado foragido pela força-tarefa (mais informações no texto ao lado) e foi apontado por pelo menos três delatores como o responsável pelas movimentações da empreiteira fora do País.
Mensalão. O próprio Alexandrino Alencar, em depoimento prestado aos investigadores na segunda, admitiu que tratou de doações da Braskem ao PP em encontros com Janene, o doleiro Alberto Youssef e Costa em hotéis de São Paulo. De acordo com o executivo, as “tratativas” foram interrompidas após Janene ser citado no escândalo do mensalão, que veio à tona em 2005.
Alexandrino Alencar, contudo, nega que tenha tratado de propinas nas reuniões. Ele afirmou que cuidava de doações eleitorais da empreiteira e admitiu que, a partir de 2007, participou de reuniões na casa de Janene, em São Paulo para “tratar de assuntos políticos” e “inclusive quanto a quem a Odebrecht iria apoiar politicamente”.
Ainda segundo o executivo, as doações ao PP e a “alguns candidatos”, que ele não detalhou no depoimento, em 2008 e 2010 foram definidas a partir destes encontros. O executivo já admitiu que o “carregador de malas” de Youssef Rafael Ângulo Lopes foi à sede da Odebrecht em “quatro ou cinco oportunidades”.
Conhecido pelo bom trânsito entre os políticos, Alexandrino Alencar chegou a acompanhar Luiz Inácio Lula da Silva em uma viagem do ex-presidente a a países da América Central e do Norte em 2013.
Com a palavra, A Braskem
Em nota à imprensa, a Braskem assegurou que todos os contratos com a Petrobrás ‘seguiram os preceitos legais e foram aprovados de forma transparente de acordo com as regras de governança da Companhia’. Segundo a Braskem, os preços praticados pela Petrobrás na venda de nafta sempre ‘estiveram atrelados às mais altas referências internacionais de todo o setor, prejudicando a competitividade’.
Leia a íntegra da nota da Braskem
“A Braskem reafirma que todos os contratos com a Petrobras seguiram os preceitos legais e foram aprovados de forma transparente de acordo com as regras de governança da Companhia. É importante lembrar que os preços praticados pela Petrobras na venda de nafta sempre estiveram atrelados às mais altas referências internacionais de todo o setor, prejudicando a competitividade da indústria petroquímica brasileira.”
Com a palavra, Alexandrino
O executivo Alexandrino Alencar negou “veementemente” ter intermediado qualquer tipo de pagamento a ex-dirigentes da Petrobrás e disse que as “contradições” entre os depoimentos de Costa e Youssef “confirmam a fragilidade da acusação”.
Abaixo, a íntegra da nota de Alexandrino
“Alexandrino Alencar nega veementemente ter intermediado qualquer tipo de pagamento a ex-dirigentes da Petrobrás. As contradições entre os depoimentos de Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef, reiteradas no depoimento de hoje do ex-diretor da Petrobrás confirmam a fragilidade das acusações”.
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