O Globo / Folha de S. Paulo
Eu queria distribuir penicilina e levei uma
bronca
Estimado general,
Ontem almocei com a turma na casa do
Franklin Roosevelt. Ele saiu daí há exatos 77 anos. O presidente estava com a
mulher, Eleanor, e a namorada, Lucy. Encontrei o general George Marshall, meu
chefe durante a Segunda Guerra, e o Eisenhower, comandante das nossas tropas na
Europa. Não sei quem trouxe o assunto, mas a conversa tomou um rumo picaresco:
o senhor foi ministro da Defesa, e as Forças Armadas brasileiras compraram 35
mil comprimidos de Viagra. Essa droga não existia no meu tempo, apesar de eu
nunca ter precisado dela. Aqui onde estamos, ninguém precisa de estimulantes.
O Marshall estava horrorizado. Ele lembrava que o senhor havia usado seu nome durante a pandemia para fazer publicidade de um programa de gastos do governo. Marshall é um grande sujeito, reservado e casto. Imagine que, em 1943, numa visita a Hollywood, um magnata da indústria cinematográfica pediu-lhe que escolhesse uma atriz para acompanhá-lo ao jantar. Ele atravessou a sala e convidou Margaret O’Brien, uma menina de 6 anos. Ninguém faria mexericos à sua custa.
Não me horrorizei, mas achei a compra
esquisita. A imensa maioria da tropa não precisa de Viagra. Fico imaginando um
general pedindo ao ajudante de ordens ou à moça da farmácia a sua dose de
comprimidos. Situação constrangedora. Imaginei o Eisenhower nessa situação.
Digo-lhe isso porque é pública a fofoca de seu caso com a motorista. A Kay era
uma irlandesa ruiva, ex-modelo, divorciada e linda. Ela nunca reconheceu
intimidades horizontais, e acredito na moça.
Eu gostava de matar inimigos e de dizer
palavrões. Dei uns tapas num soldado medroso e fui obrigado a pedir desculpas
em público. Fanfarrão? Talvez. Quando eu marchava sobre a Alemanha e cheguei às
margens do Rio Reno, mijei nele, com gente vendo e fotografando. Se não tivesse
feito isso, passaria o resto da vida me lamentando. Afinal, meus blindados
desceram na Itália e só não entraram em Berlim porque me impediram.
Não posso julgar o sistema nervoso dos
outros. Para mim, a véspera de combate sempre foi coisa excitante. Sei que o
general Lee, comandante dos rebeldes na Guerra Civil Americana, teve diarreia
durante a Batalha de Gettysburg, em 1863. Oitenta anos depois, em Stalingrado,
o mesmo aconteceu ao marechal alemão Von Paulus. Ambos perderam. No Dia D, em
junho de 1944, o Eisenhower estava com os olhos congestionados, e seu ouvido
zumbia. O colega Omar Bradley comandou o desembarque com o nariz inchado. Meu
sistema é outro, a adrenalina revigora-o.
Depois que nossas tropas entraram em Paris,
a saúde dos meus soldados preocupava-me, e sugeri que distribuíssem penicilina
para as moças dos bordéis. O Eisenhower, furioso, escreveu-me que a ideia era
inaceitável, pois poderíamos ficar sem aquele remédio tão importante. Ele
queria proteger a demanda; eu, que conheço a vida, queria controlar a oferta.
Imagino o que ele diria se lhe propusessem distribuição de Viagra para uma
tropa conquistadora, na França.
Eu me renderia ao primeiro sargento alemão
antes de deixar registrado na farmácia do regimento que o general Patton mandou
buscar sua cota de Viagra.
É dura a vida de um chefe militar formado
na cavalaria em tempo de paz. Passei por isso e sofri muito.
Com meus respeitos, despeço-me porque o
sargento trouxe o Big Red para minha cavalgada matinal. Cheguei aqui montado
nele.
General George S. Patton
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