quarta-feira, 13 de abril de 2022

Bernardo Mello Franco: Milagres de Páscoa

O Globo

O coelhinho da Páscoa chegou mais cedo a Brasília. Às vésperas do feriado, o governo montou uma força-tarefa para melar a investigação do escândalo no MEC. Tocados pelo espírito cristão, três senadores retiraram suas assinaturas pela criação de uma CPI. A quarta inovou: disse que o jamegão não era dela.

O caso de Rose de Freitas é o mais curioso. Na semana passada, a emedebista foi recebida por dois ministros de Jair Bolsonaro. Na quarta-feira, esteve com Ciro Nogueira e Célio Faria Júnior. Na quinta, voltou a se encontrar com o chefe da Secretaria de Governo.

A última reunião no Planalto terminou às 13h20. Quatro horas depois, Rose subiu à tribuna do Senado e disse nunca ter apoiado a CPI. Ela alegou ter sido vítima de fraude, embora sua assinatura eletrônica apareça em ofício enviado à Secretaria-Geral da Mesa.

Como o MDB não é para amadores, Rose marcou presença no jantar oferecido ao ex-presidente Lula na segunda-feira. Ontem ela recuperou o furor investigatório e apoiou a criação de uma CPI sobre obras de gestões petistas. O objetivo da manobra é óbvio: chantagear a oposição e blindar a quadrilha do MEC.

O senador Weverton Rocha, do PDT, alegou motivos religiosos para desistir da CPI original. Disse que desejava evitar a “criminalização” dos evangélicos. O pedetista conhece bem os personagens do escândalo. Em março, gravou vídeo ao lado do pastor Gilmar Santos, acusado de cobrar propina para acelerar a liberação de verbas destinadas a escolas e creches.

Oriovisto Guimarães, do Podemos, foi eleito na onda da Lava-Jato. Agora ajuda a abafar uma investigação de corrupção e tráfico de influência. No sábado, ele alegou que a CPI serviria de “palanque eleitoral”. Para evitar o contratempo, decidiu a ajudar o governo a enterrar as denúncias.

O terceiro a retirar a assinatura foi Styvenson Valentim, também do Podemos. O senador é um personagem típico da chamada nova política. Capitão da PM, ganhou fama ao caçar motoristas embriagados nas ruas de Natal. O porte físico lhe rendeu o apelido de Robocop da Lei Seca e o mandato de oito anos em Brasília.

Na quinta passada, quando ainda apoiava a criação da CPI, Styvenson disse não estar entre os “privilegiados” que recebem verbas do governo. “Estou no limbo aqui, boiando, sem recurso nenhum”, choramingou. No dia seguinte, deu-se o milagre: o Planalto liberou R$ 287 mil para uma emenda do Robocop.

 

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