Folha de S. Paulo
Governo e apoiadores podem negar, mas Deus
tudo vê (Hebreus 4:13)
O governo do presidente Jair Bolsonaro (PL)
gosta de embaralhar a agenda de costumes, o discurso de apelo moral e citações
bíblicas até para tratar de temas técnicos. Mais recentemente, ele e aliados
passaram a fazer correlações entre predileções divinas e a atual gestão, para
reforçar como merecem ser reeleitos no pleito deste ano.
Em 22 de março, em evento no
Tocantins, a fala foi clara. "Quero dizer da satisfação e do
orgulho, da missão dada por Deus, de estar à frente do Executivo federal,
buscando atender a todos os brasileiros, zelando pelo dinheiro público. Estamos
há três anos e três meses sem corrupção no governo federal."
A fala ocorreu no dia seguinte à divulgação, pela Folha, do áudio em que o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro explica os critérios adotados para organizar a liberação de recursos da pasta. O ministro afirma na gravação que prioriza amigos de pastor a pedido do presidente.
Antes de ser demitido, tentou desdizer o
dito. Nota da pasta afirmou que o presidente da República não pedira
atendimento preferencial a ninguém. No entanto, hoje não existe dúvida, dada a
farta divulgação de reportagens, que se
instalou um balcão de negócios no MEC (Ministério da Educação).
Foram inúmeros os relatos de que esses
pastores pediram contrapartidas para providenciar a liberação do dinheiro
público. Na lista de solicitações veio de tudo, menos critérios técnicos. Ouro,
doações para igrejas, compra de bíblias.
O Ministério
Público Federal iniciou uma apuração para tentar entender como
pastores se tornaram gestores de verbas federais. Nos últimos dias, o Senado
trabalha pela instalação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito). O
governo tem apoio da bancada evangélica para tentar detê-la.
Qual o nome de tudo isso senão corrupção? Usando a metáfora que agrada ao governo e apoiadores, Bolsonaro e a bancada da Bíblia podem negar, podem até deter as investigações, mas Deus tudo vê. (Hebreus 4:13)
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