Folha de S. Paulo
Marine Le Pen trabalhou para amenizar a
imagem de radicalismo da legenda
Passaram para o segundo turno da eleição
presidencial francesa Emmanuel
Macron e Marine Le Pen,
reprisando o embate de 2017. A crer nas pesquisas, o cenário é mais favorável a
Macron, mas a disputa deverá ser mais apertada que a de cinco anos atrás. O que
aconteceu?
Marine Le Pen é a herdeira, biológica e
política, de Jean-Marie Le Pen, da Frente Nacional, um partido de extrema
direita com ideias racistas. Nos últimos anos, Marine trabalhou para amenizar a
imagem de radicalismo da legenda, que rebatizou de Reunião Nacional. Conseguiu,
em parte porque adotou bandeiras menos extremistas, em parte pelo efeito
comparação.
Num mundo povoado por Putins, Trumps, Bolsonaros, Dutertes e Orbáns, Le Pen nem parece um nome tão exótico. Mais importante, ela defende posições muito parecidas com as da esquerda na questão previdenciária e, por insistência, conseguiu fazer com que o discurso anti-imigração se insinuasse até na plataforma de Macron. O francês médio que olha para os lados vê cada vez menos Marine Le Pen como a extremista xenófoba contra a qual vale se unir até com o diabo.
Como deve agir o político bem-intencionado
(imaginando que a junção dos termos não constitua um oxímoro)? Ele deve dizer
exatamente o que pensa ou é lícito que modele seu discurso para atrair (ou ao
menos não alienar) parcelas importantes do eleitorado?
Como jornalista, tenho de abraçar a
primeira opção. Nessa fórmula, os postulantes devem se mostrar sem retoques ao
eleitor, que é o decisor de última instância. Candidatos e militantes, porém,
costumam pensar diferente. Em seus cálculos, para um político poder fazer o
bem, ele precisa antes ser eleito. Como bom consequencialista, sou sensível ao
argumento. Mas, como o caso francês ilustra, quando todos os postulantes se
põem a agradar aos eleitores, surge o risco de vermos apagadas ou ao menos
esmaecidas as distinções fundamentais entre eles.
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