segunda-feira, 10 de novembro de 2025

Direita busca alforria, por Carlos Pereira

O Estado de S. Paulo

O bolsonarismo se tornou um fardo. Romper com ele é o caminho para uma direita democrática

A iminente prisão do ex-presidente Bolsonaro impõe um teste crucial ao comportamento estratégico dos políticos. Quando o custo reputacional junto ao eleitorado se antecipa, é racional que os partidos desenvolvam relutância em se associar a nomes marcados por problemas com a Justiça. Em um ambiente eleitoral cada vez mais competitivo – em que, até a véspera da votação, ainda é difícil prever o vencedor –, é esperado que as legendas busquem candidatos substitutos distantes do perfil do político condenado.

Esse movimento abre uma oportunidade para que o centro e a direita democrática se libertem do clã Bolsonaro. Depois que eles ressuscitaram Lula ao provocar, com a Lei Magnitsky e o tarifaço americano, um surto de patriotismo em defesa do Brasil, a recente crise de segurança pública devolveu uma nova chance à oposição. Mas esse campo político ainda não conseguiu se reagrupar em torno de uma liderança.

As pesquisas de opinião mostram com clareza: o clamor popular não é por saídas autocráticas, mas por uma centro-direita capaz de restaurar a ordem nas ruas – sem abrir mão da legalidade. Na França, a polícia é chamada de Forces de l’ordre. No Brasil, talvez por termos vivido uma ditadura violenta por mais de duas décadas, confundimos autoridade com autoritarismo. Algumas lideranças de direita já entenderam esse recado, mas seguem reféns de Bolsonaro.

O Brasil já dispõe de engenharia institucional que remove políticos desviantes e que atentam contra a democracia do jogo eleitoral por oito anos: a Lei da Ficha Limpa. Mas é importante reconhecer que a inelegibilidade de um político não é apenas uma punição individual. Ela tem efeitos coletivos: os partidos também pagam o preço pelos desvios de seus líderes.

Pesquisas mostram que partidos cujos líderes são banidos sofrem queda de desempenho eleitoral. A perda de votos não se restringe ao cargo diretamente afetado pelo escândalo, mas contamina toda a legenda. Além disso, essas siglas enfrentam dificuldades para encontrar candidatos de reposição à altura em função do dano reputacional.

Em contextos em que a violação das regras democráticas resulta em punições severas – como no caso de Bolsonaro e de seu entorno político e militar –, partidos têm incentivos para selecionar candidatos mais respeitáveis e adotar práticas preventivas para se desvincular, de forma definitiva, dos desvios do passado. Quanto mais cedo romperem com Bolsonaro, mais chances terão de reconquistar a confiança do eleitorado com autoridade moral e competitividade eleitoral. •

 

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