Correio Braziliense
Discursos bonitos em eventos internacionais
não são suficientes para combater as mudanças climáticas nem salvar as pessoas
que já estão sendo impactadas por elas. O que nós, adolescentes e jovens,
queremos são compromissos verdadeiros
Hoje, tem início a 30ª edição da Conferência
das Partes (COP30), e países de todo o mundo, incluindo o Brasil, têm uma
responsabilidade que não podem mais adiar: ir além dos discursos e assumir
ações concretas, efetivas, que realmente protejam a vida daqueles mais
impactados pelas mudanças do clima.
Nós, adolescentes e jovens, sabemos bem o que significa sermos os mais impactados. Não somos os criadores desse sistema que gera poluição, desmatamento e consumo desenfreado de recursos naturais, mas somos nós e as crianças os que mais sentem na pele, de forma desproporcional, os efeitos desse cenário. Somos nós que não conseguimos nos concentrar na aula por conta do calor extremo, que vemos as áreas verdes ao nosso redor diminuírem, que precisamos recorrer a abrigos quando há enchentes ou deslizamentos, e que sofremos com doenças causadas pela poluição.
Vale nos apresentar: somos 20 integrantes do
Conselho Jovem do Unicef Brasil, um grupo que busca colocar em prática a
participação cidadã de adolescentes por meio do diálogo propositivo com o
Unicef e gestores públicos. Temos entre 14 e 22 anos, e viemos de diferentes
partes do país: da Amazônia, da Caatinga, da Mata Atlântica; de ilhas, da zona
rural e das periferias dos grandes centros urbanos. Nosso coletivo é marcado
pela diversidade: há representantes LGBTQIA , negras e negros, indígenas,
migrantes, quilombolas e pessoas com deficiência. Somos diversos, mas temos um
pedido em comum.
Discursos bonitos em eventos internacionais
não são suficientes para combater as mudanças climáticas nem salvar as pessoas
que já estão sendo impactadas por elas. O que nós, adolescentes e jovens,
queremos são compromissos verdadeiros. Mais do que palavras, precisamos de
ações concretas, tomadas por cada presidente, negociadora, ministro ou
primeira-ministra presente antes e depois da COP30. E essas ações precisam ser
efetivas.
É hora de reduzir sem atraso as emissões de
gases de efeito estufa, de investir em energias renováveis e de promover
práticas verdadeiramente sustentáveis.
Além disso, queremos que o Brasil e outros
países assumam compromissos com as populações indígenas, quilombolas e
tradicionais, que historicamente são as que mais protegem o meio ambiente. É
preciso demarcar territórios e garantir os direitos desses povos para que
possamos continuar usufruindo do ar limpo, dos rios cheios e da vegetação
vasta, que seguem aqui graças ao trabalho deles. Não há como proteger o meio
ambiente sem proteger essas pessoas.
Também queremos educação ambiental para cada
criança e cada adolescente. Desde cedo, é preciso que todo mundo conheça a
natureza, saiba o que são mudanças climáticas e se some à luta pela preservação
do meio ambiente, ajudando a pensar soluções, projetos e tecnologias que
transformem a nossa maneira de consumir, comprar e gerar resíduos.
Assinamos este artigo junto ao representante
do Unicef no Brasil, Joaquin Gonzalez-Aleman. Sabemos que ele veio ao Brasil
pela primeira vez em 1992, aos 25 anos, na ECO-92, uma das primeiras grandes
conferências de clima. Na época, nenhum de nós tinha nascido. Trinta anos
depois, somos nós os participantes da COP30. E nos perguntamos: o quanto
realmente avançamos no combate às mudanças climáticas?
Já há um consenso importante sobre como
enfrentar a mudança do clima, definição de acordos e metas, e a mobilização de
muitas pessoas nessa luta. E, ainda assim, a vida de quem é criança e
adolescente hoje é pior, quando se trata do meio ambiente, do que de quem vivia
naquela época.
Quando falamos de mudanças climáticas, não
estamos falando de algo distante. Estamos falando do nosso agora. Por isso, na
COP30, pedimos que os líderes nacionais e internacionais escutem nossas vozes:
as vozes que vêm das florestas, dos rios, das periferias e das comunidades
tradicionais que resistem todos os dias. Sem nós, adolescentes e jovens, não
será possível para o Brasil e para outros países que estarão na COP30,
encontrar uma solução para as mudanças climáticas.
Não foi feito o suficiente no passado, mas
nós somos o presente e estamos aqui para cobrar ações e esperançar com as novas
gerações. O futuro já é agora.

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