O Estado de S. Paulo
Estamos na quarta versão do relatório de Guilherme Derrite para o projeto Antifacção. Iremos à quinta, pelo menos. A estratégia de seu assessor parlamentar Hugo Motta – de atropelar à la Lira – fracassou. O governo, desapropriado, que teve tomada a autoria-gestão sobre proposta originalmente sua, provocou e colhe o desgaste do relator. Ganhou tempo e ar; e investe em que tenhamos as sexta, sétima, oitava versões como expressões de improviso.
Se não tem mais a propriedade sobre o que criara, trabalha para que o projeto ao menos não tenha a cara da oposição. Gestão de danos, depois da trairagem fundamental de Motta, que pegou a proposta de Lula para segurança pública – para 2026 – e deu na mão da oposição, precisamente na de Tarcísio de Freitas, o provável desafiante. Assim foi posta a mesa, em função da qual o Planalto organizou o seu jogo. Reagir imediatamente ao relatório da hora para lhe apontar “fragilidades e inconsistências”.
Derrite recuou. Cedeu no propósito de alterar
a Lei Antiterrorismo, pressionado sobretudo pela atividade consultiva de
ministros do Supremo, que hoje prestam serviços também legislativos orientando
(constrangendo) parlamentares sobre possíveis inconstitucionalidades de
propostas que formulam. O governo farejou o sangue na água. Foi para cima. Quem
recua uma vez, afinal, poderá recuar outras. Recuou novamente – o que o relator
chamará de movimento estratégico. Não está errado. Existem recuos estratégicos.
Derrite, afora a contaminação inevitável –
por fraqueza – decorrente da exposição prolongada a Motta, jogava bem. Evitava,
evita ainda, conflitos – particularmente responder às críticas desaforadas – e
se pôs à disposição para conversar e ajustar o texto. Ele sabe que o presidente
da Câmara, cuja autoridade está em xeque, só o destituirá caso cometa erro que
lhe tire as condições políticas de se apresentar-sustentar como interlocutor de
todos os partidos.
As margens estão justas e o governo opera –
bem – como pode; o que não se resume apenas à mobilização para evitar que
projeto de Lula acabe em glórias a Tarcísio. Há algo novo: o Planalto, em busca
de brecha, estimula campanha crescente pela queda de Derrite, empenho decerto
beneficiado pelo flagrante do relator jantando com o algoz do lulopetismo
Eduardo Cunha. Brecha a ser explorada. Jogo ainda aberto.
Aberto também para a oposição, não à toa
havida a blitz de governadores direitistas em Brasília. O recado do Consórcio
da Paz a Derrite foi em uníssono – texto que o cronista traduz em papo reto:
“Calma, irmão. Desacelera. Ganhamos um presente. Temos a maioria para aprovar
um projeto nosso. Não se contente em tirá-lo de Lula somente. Aproveite a
oportunidade. Faça com que tenha a identidade da oposição. O povo está
apoiando. É a nossa chance de marcar a superação a Bolsonaro e construir uma
candidatura a partir da bandeira que será a mais importante no ano que vem”. •

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