O Estado de S. Paulo
A dúvida é se o Copom vai tirar a palavra ‘bastante’ que vem com o adjetivo ‘prolongado’ do comunicado
O desfecho da reunião do Copom hoje não será surpresa alguma para ninguém: manutenção da taxa Selic em 15%. Isso já foi amplamente telegrafado pelo Banco Central. Mas a grande expectativa de analistas e investidores está concentrada num simples sintagma nominal do comunicado a ser divulgado com a decisão: se o Copom irá deixar ou retirar do texto o advérbio “bastante” que acompanha o adjetivo “prolongado” da sua sinalização sobre os próximos passos da política monetária.
Desde julho, quando deixou os juros parados
em 15%, o Copom vem avisando que iria manter a taxa básica inalterada nesse
patamar por “um período bastante prolongado”. Nas contas do mercado, não fazia
sentido o BC dizer “bastante prolongado” e iniciar um novo ciclo de corte de
juros antes de duas ou três reuniões. Ou seja, julho, setembro e novembro estão
fora dos cálculos de analistas. Uma minoria aposta num corte em dezembro. Por
achar que um movimento prematuro, diante de condições macroeconômicas ainda
insuficientes, poderia ferir a credibilidade do Copom, a maioria do mercado se
divide entre as reuniões de janeiro e de março na aposta para o início do
afrouxamento monetário.
Se o comunicado for alterado para sinalizar a manutenção dos juros em 15% apenas por “um período prolongado”, é possível que muitos analistas e investidores antecipem de março para janeiro a aposta para o início do corte da Selic. A leitura dessa mudança no texto seria a de que, se a inflação corrente seguir surpreendendo para baixo e as expectativas inflacionárias de 2026 e 2027 seguirem recuando, o Copom já poderia preparar o terreno na reunião de dezembro para dizer que um ciclo gradual de redução dos juros seria iminente, ou algo que possa deixar a porta aberta para um corte em janeiro.
Outro fator que pode influenciar as apostas
do mercado será a projeção de inflação do Copom ao longo do horizonte relevante
da política monetária. Na última reunião, essa projeção foi de 3,4% para o
primeiro trimestre de 2027. Como, desde então, o dólar permaneceu comportado
(abaixo de R$ 5,40), a inflação desacelerou e as expectativas recuaram, se o
Copom revisar essa projeção para 3,2%, por exemplo, nível mais próximo da meta
de 3%, isso seria um sinal de que a Selic já não precisaria ficar no nível
restritivo atual por tanto tempo.
Por outro lado, o mercado de trabalho segue robusto e a perda de fôlego da atividade econômica está mais lenta do que o esperado. Isso exigiria cautela. Qual será a interpretação do Copom? A resposta depende de um advérbio.

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