Sucessivos escândalos de corrupção solapam
imagem de Lula; ex-presidente ainda deve explicações satisfatórias sobre todos
esses episódios
Nos seus aspectos constrangedores e
diminutos, o caso Rosemary Noronha comprova, para além de qualquer dúvida, o
tipo de legado que o ex-presidente Lula deixou à sua sucessora no Planalto.
Ainda que tenham sido significativos os
avanços econômicos e sociais ao longo de seu governo, Lula fez com que
verdadeira herança maldita se mantivesse incrustada no aparelho de Estado brasileiro.
Nem mesmo se completam o desmantelamento e a
punição da quadrilha mensaleira, outro foco de irregularidades é desvendado.
No mensalão, o escândalo estacou na figura
todo-poderosa do ex-ministro José Dirceu, sem que surgissem provas do envolvimento
de Lula no esquema criminoso.
Restaram, é claro, as suspeitas de
conivência, reforçadas pela contínua atitude de apoio aos condenados que tanto
Lula como setores ainda expressivos do petismo não têm pejo em manifestar.
Diferentemente do que ocorre em outros
países, não é da tradição brasileira investigar a vida pessoal de suas figuras
públicas.
Pouco importaria o tipo de relacionamento que
se verificou entre Lula e Rosemary.
Entretanto impõem-se explicações sobre o fato
de ela ter sido nomeada chefe do escritório da Presidência em São Paulo,
exercendo a partir daí atuação diversificada no campo dos favorecimentos, das
indicações, dos pareceres duvidosos e das propinas de ocasião.
Sem outras qualificações exceto a proximidade
com o presidente, Rosemary conseguiu nomear Paulo Rodrigues Vieira para a
diretoria da Agência Nacional de Águas e seu irmão, Rubens Carlos Vieira, para
cargo equivalente na Agência Nacional de Aviação Civil.
Surge, com a ajuda de Paulo Vieira, a
aprovação suspeita de um projeto portuário em Santos; surge um parecer
favorável ao ex-senador Gilberto Miranda, permitindo que ocupasse uma ilha no
litoral paulista; surgem laudos e diplomas falsos obtidos por Rosemary em
benefício de seu grupo.
Sem dúvida, a dimensão das propinas e dos favorecimentos
já descobertos autoriza a aplicação de um termo em voga,
"mequetrefe", para os atos da assessora lulista.
Mas não é mequetrefe, afinal, o cargo de
presidente da República. E não é inédito, muito ao contrário, o estilo de
aparelhamento imposto pelo lulismo ao governo federal, que este episódio
reafirma.
O ex-presidente, mais uma vez, esconde-se
atrás da barreira de fumaça criada pelos correligionários.
Desmorona, aos poucos, o mito de estadista de
que se quis cercar um governante que pôs o Estado a serviço de interesses
partidários e que se esquiva, de modo contumaz, a assumir a responsabilidade
dos atos delituosos que se cometeram sob seu poder.
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