No
Congresso, o ministro da Justiça elogia a PF e diz que não havia razões para a
quebra de sigilo da ex-assessora. Ele também garantiu que nada envolve o
ex-presidente na Operação Porto Seguro.
Cardozo
nega interferência na PF
Paulo de Tarso Lyra, Juliana Colares
Em depoimento de sete horas na Comissão de
Segurança Pública da Câmara, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, deu
ontem a senha para a base aliada no Congresso blindar a ex-chefe de gabinete da
Presidência da República em São Paulo Rosemary Noronha e o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva. Segundo Cardozo, não existe nada, nas 11 mil páginas do
inquérito da Operação Porto Seguro, que envolva o nome do ex-presidente Lula
com a quadrilha desmontada pela Polícia Federal. Nem qualquer ligação
telefônica entre Lula e Rose que tenha sido alvo de investigação. Acrescentou
que o sigilo telefônico da ex-chefe de gabinete não foi quebrado porque os
investigadores entenderam não haver razões técnicas para isso. "Além de
não ser integrante formal da quadrilha, os crimes praticados por ela
aconteceram em 2009 e 2010. Os demais continuaram praticando
irregularidades", justificou o ministro, garantindo que a Polícia Federal
não sofre pressão política.
Por diversas vezes, especialmente após as
intervenções de parlamentares da oposição, Cardozo foi obrigado a dizer que não
houve qualquer favorecimento a Rosemary nem pressão política para que a Polícia
Federal poupasse a ex-chefe de gabinete da Presidência da República em virtude
de suas ligações com Lula e com o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.
"Tanto não houve proteção que ela foi indiciada duramente em três crimes,
tráfico de influência, falsidade ideológica e corrupção ativa, e a mesa em que
trabalhava no escritório em São Paulo foi alvo de busca e apreensão",
citou o ministro. Rose, na verdade, acabou indiciada por corrupção passiva.
Cardozo explicou que as investigações
conduzidas pela Polícia Federal levaram ao indiciamento de cinco pessoas por
formação de quadrilha: os irmãos Paulo, Rubens e Marcelo Vieira e os advogados
Marcos Antônio Martorelli e Patrícia Santos Maciel Oliveira. "Ela
(Rosemary), por exemplo, não tinha conexão com a ação da quadrilha junto ao
ex-número dois da AGU José Weber de Holanda", completou o ministro.
"Foram utilizados critérios técnicos, não políticos ou
jornalísticos", acrescentou Cardozo.
A oposição não saiu muito convencida sobre a
"participação menor" de Rose na quadrilha da Operação Porto Seguro.
"Ministro, ela interferiu diretamente nas indicações de pessoas que foram
sabatinadas pelo Senado para ocupar cargos nas agências reguladoras. Foram
essas pessoas que, posteriormente, passaram a cometer crimes e a relação de
troca de favores entre ela e os demais integrantes do grupo era
constante", protestou o deputado Ivan Valente (PSol-SP).
Assinaturas
O PPS começou ontem a recolher as assinaturas para a instalação de uma CPI para
investigar os desdobramentos da Operação Porto Seguro. "Não é de hoje que
essa senhora vinha agindo dentro do governo. Ela trabalhou anos com José Dirceu
e estava, desde 2003, desde o primeiro dia do governo do PT, na Presidência da
República. Nos estranha o motivo de Rosemary não ter sido alvo de
interceptações telefônicas e de quebras de sigilo", declarou o líder do
PPS na Casa, Rubens Bueno (PR). No Senado, a oposição também começou a recolher
assinaturas.
O líder do PSDB na Câmara, Bruno Araújo (PE),
disse existir uma "névoa" em torno das explicações dadas por Cardozo
ao Congresso. "Em outras operações da PF foram grampeadas pessoas que não
tinham relação direta com o caso", lembrou o tucano. Durante o depoimento,
Bruno traçou um paralelo entre a Operação Porto Seguro e o julgamento do mensalão,
estranhando a proteção a uma pessoa que tinha tanta intimidade com a quadrilha.
"Genoino (José Genoino, condenado pelo Supremo Tribunal Federal) deve
estar se sentido injustiçado. Ele foi incluído na formação de quadrilha e Rose,
não", ironizou o líder do PSDB.
A base aliada ao Planalto montou um cinturão
para proteger Cardozo e o ex-presidente Lula. "Quando a situação fala,
incomoda muito a oposição porque ela sabe que não pode atacar um governo que
combateu a corrupção, que não tem um procurador-geral que engavetava os
processos contra o governo", afirmou o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto
(SP). "Eles falam da independência do atual procurador-geral (Roberto
Gurgel), mas, até a semana passada, queriam indiciá-lo na CPI do Cachoeira",
devolveu o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP).
Sampaio afirmou — e foi parabenizado
posteriormente pelo ministro da Justiça — que, até onde ele percebe pelas
informações que saíram na imprensa, Lula está inocente nessa situação.
"Posso depois descobrir que estou equivocado e rever minha posição. Mas
até o momento não vejo provas de envolvimento de Lula com a quadrilha",
disse Sampaio. "Mas o PT não pensa assim em outras situações. Tanto que
indiciou o governador de Goiás, Marconi Perillo, como se ele fizesse parte da
quadrilha de Carlinhos Cachoeira", provocou.
Hoje, Cardozo estará no Senado, ao lado do
advogado-geral da União, Luís Inácio Adams. Ontem à noite, das 20h às 21h15, o
ministro da Justiça esteve no Palácio do Planalto para um encontro com a
ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti. Ao término da reunião,
ninguém concedeu entrevista.
Colaboraram Adriana Caitano e Juliana Braga
Fonte: Correio Braziliense
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