Após o
PIB fraco no terceiro trimestre, o ministro Guido Mantega pediu que o IBGE
reveja os dados referentes a gastos do governo com educação e saúde. Ele
afirmou que essas correções são "normais". Horas depois, disse que
era só um pedido de esclarecimento.
Mantega
pede a IBGE que revise dados de crescimento do PIB
Ministro achou "estranha" a
estabilidade de saúde e educação públicas
Cristiane Bonfanti, Vivian Oswald e Cássia
Almeida
BRASÍLIA e RIO - Após a divulgação de um crescimento
de 0,6% do PIB no terceiro trimestre, o ministro da Fazenda, Guido Mantega,
informou ontem que pediu para o IBGE revisar os dados apurados entre julho e
setembro. Chamou a atenção do ministro o fato de serviços de administração,
saúde e educação públicas terem ficado estáveis (0,1%) ante o segundo
trimestre.
- É um dado estranho, porque chequei os dados
do governo federal, e é muito difícil você diminuir saúde e educação. Só sobe,
até por lei. O governo é obrigado a aumentar o gasto com saúde e educação.
Então, pedimos para o IBGE revisar esses dados. É verdade que, quando saem
esses dados, é uma primeira aproximação. Na segunda, há correções que são
naturais, porque está muito no início - disse o ministro durante audiência
pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal.
Mantega lembrou que o PIB do segundo
trimestre já foi corrigido. Era 0,4% e foi para 0,2%. E disse que isso "é
normal". Mais tarde, tentou minimizar a declaração: não se trataria de
pedido formal de revisão, mas de esclarecimento:
- Só queremos que eles nos expliquem se é
normal - disse Mantega.
O próprio ministro fez revisões e admitiu que
a economia crescerá apenas 0,8% no quarto trimestre ante o terceiro, devido a
um cenário "mais pessimista". A previsão anterior era de 1%.
Mantega afirmou que ações para investimentos
serão anunciadas esta semana. Entre elas, estaria a prorrogação do programa de
juros subsidiados do BNDES para compra de máquinas e caminhões.
A fala do ministro preocupa, diz o economista-chefe
da MB Associados, Sérgio Vale:
- É raro haver erros dessa natureza em que o
IBGE volta atrás. Na próxima divulgação, se houver grande mudança nos dados de
administração pública, ficará a suspeita de que houve interferência no IBGE. Já
temos experiência na Argentina de mexer demais nos dados do Indec (instituto
oficial de estatísticas argentino). Mas não creio que o governo queira ir por
esse lado.
A polêmica sobre os números do PIB, que
surpreendeu também os analistas do mercado, repercutiu entre economistas. Em
artigo publicado ontem no "Valor Econômico", o ex-diretor do Banco
Central Francisco Lopes afirmou que os juros mais baixos do país não poderiam
ter feito a atividade econômica recuar. O setor de intermediação financeira
teve resultado negativo e contribuiu para o fraco desempenho do PIB. Segundo
Lopes, o indicador usado pelo IBGE para deflacionar o resultado (ou seja,
descontar os efeitos da inflação) do setor financeiro não foi adequado, diante
da queda significativa dos spreads (diferença entre as taxas pagas pelo bancos
e as cobradas nos empréstimos) e dos juros nos últimos trimestres. Para ele, o
PIB deveria ter crescido 1,72% nos últimos quatro trimestres, e não o 0,9%
registrado.
Professor da UFF e ex-coordenador de Contas
Nacionais do IBGE, Claudio Considera destaca os erros generalizados das
projeções:
- Todo mundo errou a projeção. Quando isso
acontece, a culpa é do termômetro.
O IBGE divulgou nota sobre as críticas:
"Não ocorreram mudanças metodológicas nem de fontes de informação no
cálculo do PIB, para o qual são seguidas as recomendações internacionais".
O instituto afirmou que segue "as recomendações da ONU adotadas pelos
principais institutos oficiais de estatística do mundo".
Fonte: O Globo
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