Ala paulista do PSDB teme isolamento no
partido; DEM e PPS acham que ainda é cedo para escolha
Fernanda Krakovics, Gustavo Uribe
BRASÍLIA e SÃO PAULO - Mesmo reconhecendo que
o senador Aécio Neves (PSDB-MG) construiu maioria no partido, e que só não será
candidato a presidente da República se não quiser, o PSDB de São Paulo
considerou precipitado o lançamento da pré-candidatura do mineiro por líderes
nacionais tucanos, em evento anteontem. A apresentação do nome de Aécio, sem
uma discussão sobre alianças, também não empolgou outros setores do PSDB e
partidos de oposição aliados dos tucanos.
Ontem, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin,
disse ser contra a antecipação da disputa eleitoral e afirmou que a escolha do
candidato tucano à sucessão presidencial deve ficar apenas para a segunda
metade de 2013:
- Não sou favorável a antecipar disputa
eleitoral, acho que encurta o governo. O Aécio Neves é um grande nome, foi um
grande governador e é um senador de honra. Ele tem todas as qualificações para
tamanha responsabilidade, mas acho que essa questão de escolha de candidato tem
de ficar mais para frente- disse.
Aliado do ex-governador de São Paulo e
candidato derrotado à Presidência José Serra, o senador Aloysio Nunes Ferreira
(PSDB-SP) defendeu que o partido primeiro se reorganize, construa um discurso,
uma plataforma eleitoral e uma unidade "sem brechas":
- Temos que arrumar bem a casa. Achei que o
lançamento foi feito antes da hora. O próprio Aécio reagiu com prudência,
porque ele tem noção do "timing" da política.
Para contornar a situação, Aécio viajará no
final deste mês para São Paulo para conversar com Alckmin e Serra, que
retornará nas próximas semanas de viagem aos Estados Unidos. Ontem, o senador
mineiro pisou no freio, mais uma vez, sobre pré-candidatura presidencial, como
fizera no evento de segunda-feira, quando teve sua candidatura lançada por
líderes tucanos em Brasília, incluindo o ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso, durante um encontro com prefeitos. Após fazer ontem um discurso no
Senado atacando o governo pela forma como escolheu para reduzir a tarifa de
energia elétrica, com diminuição dos ganhos das empresas e não com desoneração
da conta de luz, Aécio comentou ontem a iniciativa de lançar sua
pré-candidatura:
- Essa é uma questão para ser discutida no
tempo certo. Foi uma manifestação do presidente Fernando Henrique, mas o PSDB
tem outros quadros. Eu defendo que uma candidatura presidencial surja apenas no
amanhecer de 2014 - disse o mineiro.
Álvaro dias diz que foi surpreendido
Os tucanos paulistas temem que a escolha de
Aécio neste momento isole a ala paulista na composição do novo comando do
partido, que será definido em maio. O atual presidente nacional do PSDB, Sérgio
Guerra, defende que Aécio o substitua no posto, mas o senador mineiro tem
dúvidas se a nova função poderá engessá-lo em suas pretensões políticas. Com o
enfraquecimento político de Serra, a ala paulista tem se movimentado para
evitar o avanço de Minas Gerais e vêm defendendo o nome de Alberto Goldman para
a direção da sigla.
O senador Álvaro Dias (PSDB-PR), que defendia
prévias para a escolha do candidato à Presidência da República, associadas a
uma campanha de filiação ao partido, disse que foi surpreendido e criticou a
definição de um candidato de cima para baixo:
- Fomos pegos de surpresa. Governadores e
senadores não foram convidados a discursar. A princípio era um evento técnico,
para prefeitos. Não há nenhuma crítica, mas também é normal que discordemos. A
militância partidária não pode ser tratada como patuleia.
Aliado de Serra, o presidente do PPS,
deputado Roberto Freire (PE), fez pouco caso do lançamento do nome de Aécio.
Disse esperar que isso ajude os tucanos, pelo menos, a fazer uma oposição
melhor.
- O PSDB avalia que isso pode coesionar (sic)
o partido. Eu espero que isso ajude o partido a fazer uma melhor oposição. A
candidatura é do PSDB, não do PPS. Temos vários alternativas, inclusive
candidatura própria. Adiantar as coisas, para nós, não tem sentido, não é nada
interessante - disse Freire.
DEM também vê lançamento com ressalvas
Presidente do DEM, sigla também aliada dos
tucanos, o senador José Agripino (RN) disse que, mais importante do que lançar
um nome, é torná-lo viável. Em seu partido, a avaliação é que anunciar desde já
o cabeça de chapa pode atrapalhar conversas para formação de alianças,
principalmente com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), que vem
tomando atitudes e adotando discurso de independência do PT.
- A oposição não pode abrir mão de oxigenar
relações com outros partidos. Só teremos chance de êxito ampliando nosso arco
partidário. O lançamento apenas não significa dizer que agora temos um
candidato. Ele tem que ser viável. Com uma candidatura posta, pode ser
entendido que não conversaremos com mais ninguém - disse Agripino.
Fonte: O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário