O estudo "Um Olhar sobre a Educação", divulgado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), lança novas luzes sobre o sistema educacional brasileiro ao comparar diversos indicadores com os dos 35 países membros da organização, a grande maioria desenvolvidos, e com dez outras economias, entre as quais Argentina, China e África do Sul. Duas questões se destacam: a grande evasão dos estudantes do ensino médio; e o volume elevado de recursos dispendidos nos cursos universitários, em contraposição ao baixo investimento no ensino fundamental e no médio.
Pouco mais da metade da população brasileira de 25 a 64 anos não havia cursado o ensino médio em 2015, mais que o dobro da média de 22% dos países da OCDE, apontou o levantamento; e 17% não tinham sequer completado os anos iniciais do ensino fundamental no Brasil, frente a 2% da OCDE. Na geração mais nova, de 25 a 34 anos de idade, houve um progresso "notável", com a parcela que alcançou o ensino médio passando de 53% em 2010 para 64% em 2015. A evasão, porém, é elevada: 41% dos estudantes abandonam o ensino médio antes da conclusão, quase o dobro dos 21% registrados, em média, em 18 outros países com dados disponíveis.
Problemas no currículo, falta de atratividade e deficiências nos últimos anos do ensino fundamental são algumas das razões para esses números, que justificam a reforma do ensino médio que causou tanta polêmica, mas deve entrar em vigor em 2020 e avançará se for definida a Base Nacional Curricular até o fim deste ano, como se espera.
O Brasil gasta anualmente US$ 3800 por aluno do primeiro ciclo do ensino fundamental (até a 5ª série), informa a OCDE. Apenas seis países incluídos no estudo gastam menos com alunos nessa faixa de idade do que o Brasil. Nos anos finais do ensino fundamental e no médio, o Brasil gasta a mesma quantia de US$ 3800 por aluno por ano, ficando também entre os últimos na lista dos 39 países que forneceram dados a respeito. A OCDE gasta, em média, US$ 8700 no ensino fundamental e US$ 10,1 mil no ensino médio. A situação muda de figura quando se avaliam os dados do ensino superior, faixa em que o investimento brasileiro por aluno sobe para quase US$ 11,7 mil. O valor é quase o triplo das despesas feitas com o ensino fundamental e médio e deixa o país perto de alguns países europeus, como Portugal, Estônia e Espanha, e até ultrapassa alguns como a Itália, com US$ 11,5 mil e a Coreia do Sul, com U$ 9,6 mil. O gasto médio do levantamento fica em US$ 16,1 mil, puxado por despesas mais elevadas nos EUA, Noruega, Luxemburgo e Reino Unido.
Frequentemente esses números servem para se questionar se não estaria havendo uma ênfase exagerada no ensino superior em detrimento da educação na base da pirâmide do conhecimento, ou seja, nas fases fundamental e média. Em todos os países, porém, o valor investido por aluno no ensino universitário é bastante superior ao das demais faixas, geralmente o dobro. Até mesmo Luxemburgo, que investe US$ 21,1 mil por aluno no ensino fundamental e médio, chega a US$ 46,5 mil no superior.
No conjunto da OCDE, o investimento médio por aluno no ensino superior é de US$ 16,1 mil. Um dos motivos é que o ensino superior exige naturalmente mais recursos. Basta se imaginar a complexidade de se formar um médico ou um engenheiro, por exemplo. Outro motivo é o fato de o indicador ser calculado em gastos por aluno, que são em número menor no ensino superior. No Brasil, significa comparar os 2 milhões de alunos de instituições públicas de ensino superior com 40 milhões de alunos de escolas municipais, estaduais e federais.
Mais importante do que apenas fundamentar pedidos de aumento dos gastos com educação, esses dados devem iluminar o debate de tema no país. Uma das várias questões implícitas é intrigante: como países que investem menos do que o Brasil em educação conseguem que seus estudantes tenham resultados melhores no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) da mesma OCDE? O governo brasileiro investe em educação o equivalente a 5,4% do Produto Interno Bruto (PIB). O percentual é superior à média da OCDE de 4,8% e está acima do registrado por vizinhos como a Argentina, que destina 4,9%, e o Chile, com 4%. Mas o desempenho dos brasileiros no Pisa fica bem abaixo da média.
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